Água é artigo de luxo em São Gonçalo
O início da concessão do serviço não tem sido promissor

O Contexto - Ter água corrente na torneira de casa virou artigo de luxo em São Gonçalo. Moradores da cidade relatam uma série de problemas por conta das recorrentes faltas de abastecimento. De acordo com eles, o mau funcionamento do serviço começou depois da concessão da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (CEDAE) para a empresa Águas do Rio, em abril do ano passado. O projeto tem por objetivo a realização de ações de infraestrutura no estado. Apesar dos inúmeros problemas registrados na cidade, a empresa alegou que o abastecimento está normal e enviará equipes para averiguar as reclamações.
“É toda semana isso! A gente acorda, vai ver se tem água e não tá ‘caindo’. Junta roupa, não dá para lavar nada. A conta de luz vem alta se a gente liga a bomba. Antigamente, a água faltava só quando tinha manutenção. Sábado não tem água, quarta também não tem. Domingo se a gente dá ‘sorte’ tem”, conta seu Kleber da Costa, de 88 anos, aposentado e morador do bairro de Tribobó.
O leilão de concessão da CEDAE foi dividido em três blocos, totalizando R$ 22,69 bilhões aos cofres públicos. O lote 1, ao qual São Gonçalo pertence, foi arrematado pelo consórcio Aegea por R$ 8,2 bilhões, com ágio de 103,13%. Na ocasião, foi firmado com os vencedores o compromisso da universalizar o fornecimento de água e esgoto em até 12 anos, tendo em vista o novo marco regulatório do saneamento. É esperado um serviço de qualidade para 12,8 milhões de pessoas, porém o início da concessão não tem sido promissor.
Mesmo que a água não chegue, as contas sempre são enviadas aos moradores. Insatisfeitos com o serviço, eles temem punições caso não paguem as cobranças. A contragosto, os populares têm se mantido adimplentes e a revolta tem resultado em brigas judiciais.
“Estou há um mês sem água. Caia só um fiozinho na torneira aqui da rua. A gente usava ela para encher balde e lavar louça e roupa. Hoje estou entrando na justiça contra eles. Cansei de esperar por uma solução. Quando ligamos para lá, mandam pessoa, colocam aparelho de medição, tiram foto para provar que vieram aqui e não resolveram nada até hoje”, desabafa a aposentada Célia Pires, 65 anos, moradora do bairro do Vila Lage.
. De acordo com nota enviada pela Águas do Rio, o abastecimento nos bairros está ocorrendo normalmente. A concessionária esclarece que enviará equipe técnica nas duas ruas mencionadas para verificar se há alguma ocorrência pontual. Desde que assumiu a distribuição de água em São Gonçalo, a concessionária afirma ter investido na manutenção das estruturas existentes, com substituição de tubulações, assim como na ampliação de rede e modernização dos sistemas de abastecimento e que o objetivo de todas as intervenções é melhorar o fornecimento de água para a população, inclusive, com a oferta de adesão à tarifa social. A empresa reforça que está à disposição da população pelo 0800 195 0 195, por mensagens via WhatsApp ou ligações.
Especialista em gestão pública, Dimas Gadelha afirma que a postura da empresa e do poder público têm sido descuidada diante do alto número de reclamações.
“Todas essas queixas precisam ser verificadas e solucionadas. Quando a empresa privada recebe do poder público uma concessão, ela também se compromete a prestar um serviço de qualidade. O governo por sua vez vendeu a água da Cedae, mas a população ainda não tem visto os benefícios dos recursos bilionários”, avalia.
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