A fermentação extremista de direita ou o estado etílico do povo
Por Pedro Aronnax
Falar da evidente ascensão da extrema direita no Brasil exige um esforço enorme no intuito de entender paradoxos dos mais diversos possíveis: por que significativas parcelas da população que trabalham até a exaustão preferem votar em candidatos que vão prejudicar a eles mesmos? Temos aí, como exemplo, a supremacia de vereadores formadores da bancada do atual prefeito gonçalense e que recorrentemente recriam leis e movimentam pautas às quais têm por finalidade subtrair direitos trabalhistas ou reduzir o poder econômico do mais necessitados financeiramente. E não há como não classificar como extremistas à mesma bancada, pois visam claramente à destruição do sistema educacional público e promovem a si mesmos acúmulos de riqueza, ainda que precisem exaurir os nossos recursos naturais.
Por qual motivo então o pobre defende e elege candidatos da extrema direita neste país? Jessé de Souza, num excelente livro intitulado Pobre de direita, oferece ótimas análises referentes a isso e fazem-nos refletir politicamente. Outro estudioso que fala bem sobre o assunto, num podcast de nome #Subsolo 10, é o professor João Cézar Castro Rocha, e ele esmiuça um pouco desses fenômenos abissais aos quais nos deparamos cotidianamente no que concerne ao extremismo. Mas o assunto é tão complexo que, não raro, o leitor precisaria de tempo e doses cavalares de paciência para poder compreender. Diante disto, metáforas ou outros elementos figurativos servem bem para desnudar um pouco absurdos de gestão pública travestidos de legislação. Por isso a metáfora da fermentação alcoólica funciona bem e explica o crescimento de eleitores satisfeitíssimos (superlativamente) com o prefeito Nelson Ruas (PL). Vejamos:
Fermentação alcoólica é, grosso modo, um monte de leveduras que devoram os açúcares presentes nos alimentos, sejam eles provenientes de cevada, arroz, milho, uvas, dentre tantos outros comestíveis que contêm carboidratos. Esses micro-organismos fermentadores (as leveduras) são vorazes, comem tanto açúcar que continuamente "defecam" ao mesmo tempo sobre o caldo do qual se alimentam, ou seja, excretam a síntese daquilo que devoraram; "cagam" sobre o que comeram. O resultado disso é o álcool com que nós, os seres humanos ávidos por nos deixarmos anestesiados e alegres, entorpecemos nossos sentidos facilmente. Melhor dizer de outra maneira, consumimos o excremento produzido pelo organismos fermentadores que nos agradam aos sentidos.
Com as políticas públicas atuais do governo Nelson no município de SG não é diferente. Uma saraivada de vereadores, muitos deles nascidos em lugares que carecem de ação pública mais efetiva e contundente, convive e bebe das culturas locais, dialoga e aprende com a carência da sociedade na qual e com a qual vivem. No entanto, em vez de cumprir com seus serviços, eles "defecam" sobre o "caldo" onde viveram e beberam; onde alimentaram as suas políticas, se elegeram, mas objetivam (e conseguem) deixar os munícipes inebriados.
Chamaríamos a tal acontecimento na política de pão e circo? Quase isso. Quer um exemplo? Quando os gestores públicos da prefeitura, em vez de repassarem recursos de forma coerente para a cidade, aumentam os próprios salários, "comem" da substância que deveriam nutrir a cidade: as verbas públicas. Esses agentes defecam seus projetos sobre as ruas, realizando obras nada estruturais em travessas, praças, muros da cidade; realizações com dinheiro do povo - obras que pouco servem-, mas são capazes entorpecer a própria população.
Quem não se impressiona com o asfalto sem drenagem com que o prefeito tapeou muita gente? Qual eleitor mais ou menos encantado não se deixa entorpecer com uma ou outra praça colorida cheia de grama verdinha ou aquele show de cantores evangélicos misturados às atrações no mesmo dia e local com artistas do samba e do funk? Bebemos, minha gente, engolimos o resultado mais alcóolico excretado pela extrema direita. E ficamos bêbados com isso.
Veja abaixo a entrevista com João Cézar de Castro Rocha.
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