Corrida por Lucas Celestino escancara abandono do esporte em São Gonçalo
- Jornal Daki
- 29 de abr.
- 3 min de leitura
Evento homenageia atleta morto em atropelamento e alerta para a insegurança de corredores no município
Por Odimar Junior

No último dia 27 de abril, eu participei do “Treinão do Celestino”, uma corrida que reuniu centenas de pessoas em homenagem a Lucas Celestino de Oliveira, de 27 anos, morto em um atropelamento na BR-101, no dia 8 de abril. O evento teve início no São Gonçalo Shopping e seguiu até o Partage Shopping, passando exatamente pelo trecho onde Lucas perdeu a vida. Mais do que uma homenagem, foi também um protesto potente contra a falta de segurança e infraestrutura para quem pratica esporte em São Gonçalo.
Vestindo camisetas com o nome de Lucas e carregando cartazes com frases como “Motoristas, respeitem os corredores” e “Justiça por Lucas”, os participantes enfrentaram o calor e o asfalto dividindo espaço com carros e vans, o que reforçou, de forma trágica e simbólica, os riscos que enfrentamos todos os dias para treinar na cidade. A Polícia Rodoviária Federal acompanhou o trajeto, garantindo a segurança.
Lucas treinava com dedicação, muitas vezes antes do amanhecer, porque tinha sua responsabilidade com o trabalho e o sustento do lar. Sua morte escancarou um problema crônico: a ausência total de espaços seguros para corredores, ciclistas e outros praticantes de esportes ao ar livre.
A Prefeitura de São Gonçalo, em parceria com o governo estadual, tem dado andamento às obras do MUVI, que conta com uma ciclofaixa e local destinado a pedestres, contudo, antes mesmo do término da obra, já é possível perceber alguns sinais de deterioração.
O trecho da ciclofaixa próximo à academia Strong, por exemplo, tem pontas de pedras aparecendo. Um tombo ali pode gerar ferimentos graves. Eu mesmo tive dificuldade em passar ali com minha bicicleta que é de um modelo speed com pneus finos.

Além dos problemas estruturais, há outro: São Gonçalo é imenso! Lucas morava longe dessa ciclofaixa e do passeio público, talvez por isso a opção de correr na BR-101. O município não é interligado por ciclovias ou pistas de corrida. Chegar até o MUVI implica correr por calçadas desniveladas e esburacadas ou dividir a rua com os carros.
Uma das falas durante o evento mostra essa triste realidade:
"O Lucas era um cara que, assim como 99% das pessoas que correm, não tinha um ambiente adequado para correr. Ou a gente corre do lado dos carros, na calçada, na via, ou não corre. Precisamos de políticas públicas urgentes." (Treinador Pedro Paulo - @treinadorpp)
Como atleta amador e morador da cidade, posso afirmar que essa realidade é compartilhada por muitos de nós. Corremos na marra, desviando de buracos, carros e postes mal iluminados. O risco é constante. Não é à toa que o caso do Lucas provocou tanta comoção. Sua história, infelizmente, representa a de muitos outros atletas invisibilizados, que seguem treinando sem apoio, infraestrutura ou segurança.
Solicito aos organizadores do evento e às assessorias de corrida que não se esqueçam dessa data e dessa forma de homenagem-luta para que casos como o do Lucas não voltem a ocorrer. Que todo o primeiro domingo depois do dia 8 de abril seja dedicado a esse evento e que ele se torne gigante.
Voltei para casa exausto, mas consciente de que participei de algo maior do que uma corrida: foi um ato de memória, de resistência e de luta. Enquanto as mudanças não vêm, seguimos correndo nessas condições — não por opção, mas por necessidade — esperando que a cidade um dia corra ao nosso lado e não contra nós.
Nos siga no BlueSky AQUI.
Entre no nosso grupo de WhatsApp AQUI.
Entre no nosso grupo do Telegram AQUI.
Ajude a fortalecer nosso jornalismo independente contribuindo com a campanha 'Sou Daki e Apoio' de financiamento coletivo do Jornal Daki. Clique AQUI e contribua.

Odimar Junior, maratonista amador e que deseja continuar correndo por muitos anos, a menos que o joelho impeça.
Comments