Esquerda gonçalense: quem não tem pecado que atire a primeira pedra
- Jornal Daki
- 15 de set. de 2020
- 4 min de leitura
Por Pedro Rebelo* - Especial para o Daki

Entendo e compartilho dos anseios sobre uma chapa única com todo o campo progressista. Não foi possível e nem é tão simples assim. Nem mesmo a direita está unida na cidade.
Unir quase toda esquerda democrática da cidade em duas chapas é um dos maiores avanços dos últimos anos. Digo quase porque não sei o caminho que o PSB tomará em sua convenção a se realizar na terça, dia 15. Parece que terá candidato próprio. Mas todos os envolvidos nas duas chapas fizeram gestos importantes.
O PSOL aceitou ser vice do PCdoB, com seu candidato cabeça de chapa, Isaac, não tendo sido testado nas urnas, enquanto Josemar (que nem vice será) desde 2008 é candidato na cidade, com votações expressivas nos últimos anos: mais de 16 mil votos para prefeito em 2016 e 19 mil votos para deputado estadual em 2018. Josemar este ano é candidato a vereador, mas as coligações acabaram e ainda que possa ir muito bem, o partido precisa atingir o quociente partidário para elegê-lo.
Da mesma forma para o PCdoB, testar o Isaac nas urnas é uma tarefa árdua. Não tenho dúvida de sua capacidade política e respeito sua trajetória. Optar por deixar o mundo sindical e as articulações internas do partido para ser figura pública em São Gonçalo não é uma decisão simples.
De igual modo o PT ter um projeto próprio na cidade depois de tantos anos a reboque e sem nenhum representante na câmara, em tempos tão adversos, requer coragem. Não será fácil dialogar com o eleitorado da cidade que tem a tendência natural ao conservadorismo. Mesmo com um candidato sem “pedigree” como o Dimas, mais conhecido pelo excelente trabalho como secretário de saúde dos últimos governos que como quadro da esquerda. O simples fato de vir pelo PT na cidade é um desafio. O apoio do PDT com Marlos como vice é também um gesto importante. No último pleito (2016), a legenda foi defendida por Brizola Neto que obteve mais de 49 mil votos. Marlos estava no PSB na época e fez mais de 41 mil votos. O Rede, que também embarcou no projeto e apoiará a chapa, apostou em Diego São Paio e fez mais de 33 mil votos. Corre por fora da raia o PROS, mas que seja pontuado que está na coligação com PT, PDT e Rede.
Sem mais delongas, vamos às polêmicas…

Em primeiro lugar, eu acredito muito mais em programas de governo que em pessoas por si só, embora não se possa desprezar o fato de que são pessoas que tocam os programas. E nesse sentido quero pontuar que a vida é feita de contradições e na política não seria diferente.
Dimas sempre foi um gestor público, nunca foi um quadro político e quando decidiu tentar a sorte embarcou no DEM. Mas não se pode ignorar que desde os tempos de Charles ele foi um exímio defensor do SUS e graças ao seu aproveitamento máximo do legado do PT na saúde enquanto esteve no poder, Dimas fez com que São Gonçalo tivesse uma saúde de excelência comparado ao desmonte caótico que já vivíamos em 2016.
Ter na chapa uma figura pública como Marlos Costa do qual conheço de perto o trabalho, só engrandece o projeto. Marlos foi vereador na cidade com mais de 230 projetos leis, alguns aprovados e foi secretário de desenvolvimento social. Graças a ele conseguimos avançar e muito em políticas de igualdade racial, juventude e combate à intolerância religiosa na cidade. Tudo isso por dentro do governo Nanci. Mais gramsciniano impossível.
Contudo, o PDT tem suas contradições na cidade. Teve Aparecida, que ainda divide opiniões. O próprio Marlos, quando vereador pelo PT cometeu erros em suas análises sobre políticas de abordagem de gênero nas escolas. Na época a tendência por parte de sua base (católica não tão progressista) falou mais alto, mas vida que segue. Marlos é maior que isso.
O PCdoB já apostou em Aldofo Konder como seu principal quadro. Um ex herdeiro de panisset, hoje guardião do Crivella e atualmente no DEM, do qual criticam Dimas por ter sido parte. O PCdoB também esteve com Dejorge no segundo turno de 2016 contra Nanci. Dejorge que naquela época tinha Crivella abertamente em sua campanha, assim como esteve com Bolsonaro e Witzel.
O PSOL também, entusiasta da política do puro sangue, que tem por prática denunciar candidatos com base em fotos antigas no melhor estilo “eu sei o que você fez no verão passado”, tem pelas redes as provas fotográficas de que já caminhou com Mota da Copasa, ex vereador na cidade que entre outras coisas, respondeu por formação de quadrilha e crimes de ameaça, constrangimento ilegal, extorsão, estelionato, atentado contra a liberdade de trabalho e etc. Mas o PSOL não é o Mota da Copasa, nem é adepto de sua linha, tal qual Dimas não é Bolsonaro e nem é adepto e sua linha, assim como o PCdoB que não é o Dejorge, nem Koder, ou o PDT de Marlos que já não é o de Aparecida.
Política é feita de contradições, programas, debates, discordâncias… O moralismo é só pirraça e nada mais.
Por isso estarei na cidade com Dimas e Marlos, mas reconheço a qualidade da chapa PCdoB PSOL e espero que estejamos juntos no segundo turno.
Toda a esquerda tem o desafio de fazer vereadores se quiser manter um projeto na cidade e o fim das coligações proporcionais é um obstáculo hoje. Não será uma eleição fácil e por isso guardo meu fogo amigo aqui.

Pedro Rebelo, professor de História, Coordenador do Movimento Axé pela Democracia e filiado ao PT SG

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