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O que sobrou daquela última noite que nos vimos

Por D.Freitas



Foto: Freepik
Foto: Freepik


Com o tempo de convivência parece que todo meu corpo se habituou a estar contigo. Sinto sua falta desde a ponta dos meus cabelos, onde apenas você pode tocar para um cafuné, até a unha dos meus pés, onde apenas você tem coragem de tocar para cortar com o risco de se machucar com o tanto que me mexo nessa ocasião.


Meus olhos se encontram com a vista enevoada, além da miopia, pois se recusam a buscar algo que se possa tentar se assemelhar a você em toda perfeição. Agora posso avistar os grandes rios da Amazônia que parecem ferver com o Sol da tarde que se põe, mas isso não se compara a sua pele. Posso perceber o fluxo dos braços fluviais e o vento que dobra as árvores, mas isso não se compara com o balançar dos seus quadris caminhando na ponta dos pés para ir buscar água na cozinha.



Por falar em pés, os meus sentem falta dos seus os tocando ao dormir. Aquela maneira desajeitada de tentar imitar o entrelaçar das mãos enquanto nos aninhamos em um abraço, de forma que, sem sucesso, se torna uma troca de carinho entre as solas e os peitos dos pés.


Nossos peitos também se tocam toda vez que nos abraçamos, juro que parece até que nossos corações tocam no mesmo compasso e na última noite que nos vimos, esse compasso foi um tanto acelerado. Sinto falta de sentir a falta de ar que me causa. Sinto saudades de sentir minha boca procurar um pouco mais de ar enquanto a sua tenta tirar de mim, não só o ar. No fim, naquela última noite que nos vimos, senti pela última vez a sensação de flutuar no espaço.


Me pergunto se também lhe dei essa sensação.


Me pergunto se você ainda pensa em tudo isso.


Me pergunto o que sente quando estou longe dos seus cachos, da ponta dos dedos dos seus pés e de tudo que se compreende entre eles.


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Davi Freitas (D.Freitas) nasceu em São Gonçalo, cria da cultura gonçalense, desde sempre conviveu com músicos, poetas e escritores. autodidata, aprendeu violão e bateria sozinho e junto com o irmão Lucas Freitas fez algumas apresentações até ter, por motivos profissionais, que mudar de estado. Como escritor, participou, pela Editora Apologia Brasil da Antologia em Tempos Pandêmicos e inicia agora sua trajetória no mundo das crônicas e contos. 



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