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Deficiência: o amor como ato de inclusão



A psicóloga, gestalt-terapeuta e escritora Silvia Quintan é uma obstinada. Ela, que usa a gestalt-terapia como uma filosofia da própria vida, muito além de uma linha de trabalho com seus pacientes, possui um projeto de inclusão de pessoas portadoras de deficiências/diferenças em que o foco é o amor.

A psicóloga, que também pode muito bem ser classificada como uma humanista militante, ainda na graduação percebeu com clareza qual seria o seu foco profissional e de vida: "Desde o início da minha graduação onde passei pelas ruas de Niterói, instituição de crianças em condição de abandono em São Gonçalo e na Rocinha, buscando corroborar a hipótese de que uma historia, situação ou trajetória não determina a vida do indivíduo. E consegui mostrar que através do trabalho com um Psicólogo, é possível que a vida de um ser humano, independente dos atravessamentos, seja de dignidade, caráter, pessoa de bem".

O amor, segundo Silvia Quintan, é uma atitude para com alguém e para com o mundo. "Entendo que lamentações e revoltas nos levam a perdermos tempo. É preciso lançar mão desta energia e iniciar um movimento de luta por aquilo que acredita. E assim tem sido os meus dias desde sempre!", revela Silvia.

E foi exatamente o amor que a socorreu de um drama pessoal e salvou os seus filhos trigêmeos de um parto prematuro com consequências graves para as crianças, fato que ela narra em tom quase estóico, demonstrando uma força que apenas só as mulheres e as mães têm:

"Dei sequência a minha profissão até que engravido. Com 30 semanas de gestação, dou à luz os trigêmeos Kayque, Eduarda e Beatriz. O parto prematuro, em 25 de janeiro de 2011, seria o início de uma jornada que, dia após dia, mostra que perder as esperanças não é uma opção. Depois de enfrentar vários problemas — de cirurgias a cegueira, passando pelo câncer — e serem desacreditadas pelos médicos, as crianças vêm crescendo e provando que a crença na vida não é em vão.

Nos primeiros dias de vida, os bebês precisaram ser submetidos a uma cirurgia no coração. As meninas sofreram uma hemorragia cerebral durante a operação, o que comprometeu, em Eduarda, a área motora, e em Beatriz, a área da visão. Foram quase três meses de internação na UTI neonatal. Depois da alta, ainda vieram as notícias de que Bia não poderia enxergar, ouvir nem andar devido às complicações do procedimento, e de que Duda, com paralisia cerebral, não conseguiria se locomover, falar nem comer alimentos sólidos. Três dias depois desta notícia da Duda soubemos que a estava com câncer na supra-renal.

Kayque, por sua vez, teve hérnia inguinal.

Por muitas vezes, ouvi de médicos que as crianças não fariam progressos. Mesmo assim, não desanimei: por conta própria, busquei tratamentos que, pouco a pouco, deram frutos. Eu sempre acreditei que existe vida além de um “não”, então quis tentar fazer algo. No hospital de reabilitação, vi muitas mães vivendo a mesma história que eu e desistindo. Mas não deixei meu sonho morrer e fui em frente."

Para Silvia, deixar-se abater, perder as esperanças e apenas lamentar é inútil: "Não vale a pena ficar se questionando, mas sim pensar no que dá para fazer e ver o que a vida apresenta de possibilidades para que se consiga lidar com os problemas", ensina.

Com duas filhas portadoras de deficiências ainda em decorrência do parto prematuro, Silvia tem inúmeros problemas com a inclusão delas nas escolas: "Inclusão envolve além de conhecimento teórico um atravessamento prático que dá muito trabalho. E alguém precisa começar. E é Por isso que estou aqui. A proposta deste Projeto é chegarmos lá", relata Silvia, que tem a intenção de incluir a sua proposta no Plano Nacional de Educação.

Silvia Quintan em novembro de 2014 lançou o seu livro "A luta de cada um", que possui um relato intimista com o leitor acerca de suas experiências e a superação de um episódio que a marcou profundamente deixando-a ainda mais forte: "Este é um livro no qual (eu) Silvia Quintan estabelece com o leitor um diálogo, aproximando-o de sua história ao mesmo tempo em que apresenta, com suas experiências, toda a força que um ser humano, por menor que seja, guarda em seu interior", afirma.

Boa sorte Silvia e força sempre. Vamos à entrevista.

JORNAL DAKI: Qual o nome e no que consiste o seu projeto em Educação?

A Luta de cada um: Projeto de inclusão.

Partindo do princípio que somos todos educadores, o projeto visa estar dentro de qualquer lugar que tenha pessoas para que possamos levar informação e conscientização a fim de naturalizar as diferenças.

JORNAL DAKI: Qual a proposta pedagógica?

Muitas vezes, diante de alguem com necessidades especiais, sabemos tudo teoricamente mas na pratica ficamos sem saber o que fazer e como lidar, não é verdade?

E o Projeto chega com o objetivo de proporcionar instrumentos para que possamos olhar, falar e conduzir as situações de forma natural, minimizando o preconceito. Afinal, há muito mais de potencialidade, capacidade neste indivíduo, do que a imagem tende a nos mostrar.

JORNAL DAKI: Qual o seu alcance?

Quero que este projeto faça parte do plano nacional de educação no Brasil.

Para isso, preciso de Pessoas !

Quero estar diante de pessoas para que todos possamos nos tornar multiplicadores desta ação.

JORNAL DAKI: De que maneira um profissional da psicologia pode contribuir no processo ensino-aprendizagem de crianças/adolescentes?

A partir do momento em que o indivíduo com algum tipo de diferença é percebido como um ser humano capaz e potente, a diferença deixa de ser figura; o foco se torna a qualidade.

E a Psicologia chega para nos ajudar e ensinar a todos a olhar, falar e conduzir toda esta história de forma natural e simples.

JORNAL DAKI: Na sua opinião, qual o maior desafio a ser superado nesta área para que tenhamos um sistema educacional bem sucedido para pessoas portadoras de algum tipo de deficiência/diferença?

O preconceito.

De um modo geral, a foto diz muito mais do ser humano.

Temos o hábito de olhar para o outro, mergulhar nos nossos conceitos prontos e dizer "ele não consegue".

E eu não acredito nisso!

Não só porque acredito no ser humano acima de qualquer coisa e vivo esta realidade no meu Consultorio todos os dias mas também, porque vivi e vivo esta realidade na minha vida pessoal, afinal entendo que a ética se afina no fazer.

E para falar desta história, lancei um livro 28 de novembro 2014, que chama A Luta de cada um.

JORNAL DAKI:Como podemos interagir com o meio para minorar sua deficiência em relação aos teoricamente diferentes?

De forma natural.

Penso que Hoje muitos de nós somos recheados de teorias e informações coerentes e sensatas e esquecemos que tudo isso sem humanidade, naturalidade, simplicidade e amor não costuma valer muita coisa.

O amor fabrica condições.

O amor é o sentido da coisa.

Ele é o maior e melhor instrumento.

E o amor atravessa a vida de todos nós. Por isso, entendo que todos podemos fazer alguma coisa.

A gente pode ser a mudança que deseja ver no mundo. Eu acredito!

JORNAL DAKI: Poderia nos contar um pouco de sua experiência com essas pessoas?

Além de atender clientes com necessidades especiais no meu Consultório, tenho hoje uma filha que está com uma deficiência motora e uma filha que foi cega, surda e inválida segundo os médicos, e por conta disso, hoje está com um amadurecimento cerebral aquém da idade cronológica. Mas já enxerga, ouve e anda!

JORNAL DAKI: As escolas de um modo geral, tanto públicas como privadas, não estão preparadas para receber, manter e desenvolver habilidades nessas pessoas. Como superarmos isso?

Através do conhecimento.

Precisamos levar o "como" para dentro e fora das salas de aula.

Vejo a importância de construirmos um novo olhar, uma nova forma de falar e conduzir as situações.

JORNAL DAKIA: A LDB prevê a inclusão das pessoas com deficiência no ambiente escolar mas não temos até hoje um enfoque nelas nas faculdades de licenciatura. Por quê?

Inclusão envolve além de conhecimento teórico um atravessamento prático que dá muito trabalho. E alguém precisa começar. E é Por isso que estou aqui. A proposta deste Projeto é chegarmos lá!

JORNAL DAKI: Além das pessoas, o projeto tem algum apoio institucional.

Ainda não!

JORNAL DAKI Conte-nos um pouco sobre o seu livro.

​Em “A luta de cada um” somos apresentados ao amor em sua forma prática, com todas as batalhas por ele travadas e todas as marcas e cicatrizes deixadas no processo. Não há aqui qualquer objetivo de passar uma receita para a superação de problemas. Este é um livro no qual Silvia Quintan estabelece com o leitor um diálogo, aproximando-o de sua história ao mesmo tempo em que apresenta, com suas experiências, toda a força que um ser humano, por menor que seja, guarda em seu interior.

​Este não é apenas um relato de uma mãe que enfrenta um tortuoso caminho para defender seus filhos das circunstâncias impostas pela vida, este é o testemunho, eternizado em palavras, de como cada membro de uma família pode ser um agente influenciador na vida dos outros e como a luta de cada um passa a ser a luta de todos.

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