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Chutando cachorro morto



Nossos adolescentes não estão nem aí pro dia-a-dia de gente velha como seus avós. Não sabem ser solidários com quem não tem outra alternativa senão desafiar toda teoria econômica, espichando aposentadorias ultrajantes, de tão minguadas, até o fim de cada mês. Os direitos concedidos a trabalhadores ou a falta deles também são temas que não lhes dizem muito.

Quem, com alguns anos a mais, se integrou ao mundo do trabalho, por sua vez, faz da juventude uma página virada. Seus riscos e incertezas agora são problema dos outros. Morrer um pouco a cada dia, em nome de metas corporativas e do vício por consumo, parece um grande projeto de vida, mesmo custando uma degradação crescente, tendo por fim uma aposentadoria que, sabemos, revoga o sono e a dignidade de qualquer um.

Mais adiante, aqueles que hoje vivem às custas da previdência social se contentam em buscar uma vida sem sobressaltos. Mesmo quando se veem obrigados a permanecer trabalhando, querem se manter longe de problemas. Lutas trabalhistas não lhes tocam os nervos.

Sobreviver já é motivo de farta preocupação. E suas opiniões sobre os jovens são facilmente moldadas por uma mídia conservadora em franca campanha: é disciplina pra suportar o caos ou cadeia. O Estatuto da Criança e do Adolescente é letra morta.

Se fosse só isso, ainda estaria bom. Mas o brasileiro ordinário assimilou duplamente o pior do pensamento aristocrático: Não apenas a violação dos direitos alheios consiste em algo banal, como a desigualdade social é justificada como um bem. Nosso passatempo predileto é chutar cachorro morto.

Desde o início de 2015, assistimos à depredação sistemática de direitos trabalhistas, previdenciários e a cruzada em nome da redução da maioridade penal. É o Estado brasileiro se mostrando atento aos sinais da sociedade: se não reconhecemos os direitos dos outros, estamos oferecendo ocasião pra que não reconheçam os nossos. E, assim, segue-se mutilando a constituição e consolidando a precariedade como norma social.

Quanto aos abutres que se alimentam dessa barbárie? Viçosos, limpos e embebidos em perfume francês, repetem o que sempre fizeram e quase nunca foram pegos. Estão, nesse exato momento, assassinando o futuro do Brasil a canetadas. Nas mãos erradas, tinta de caneta e papel sulfite fazem mais estrago que fuzil, pistola e faca. A atuação de Eduardo Cunha no congresso nacional é um exemplo monumental disso.


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