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Degenildo, o herói que não morreu de overdose



No bairro do Boaçu (cobra grande, na língua tupi), há uma rua chamada Judith Bahiense. Seus moradores não sabem, mas essa rua faz parte da História do Brasil dos tempos atuais. Nessa rua, viveu, e morreu, em 1998, aos 76 anos, Degenildo da Silva Pinto, mestre Arrais, segundo condutor e motorista, cuja função era transportar trabalhadores para os estaleiros e receber os navios.

Degenildo, na verdade, foi muito mais do que isso. Militante comunista, lutou ao lado de Luiz Carlos Prestes, O Cavaleiro da Esperança. Brasileiro comum, morador do Boaçu, foi perseguido, preso e torturado por lutar contra a miséria, a exploração do trabalhador e as desigualdades sociais. Pai dedicado, amoroso (segundo sua filha, Lourdes) e revolucionário apaixonado, dedicou seu bem mais valioso: a vida, em busca de melhor qualidade de vida para o seu povo.

Certa vez, ainda segundo Lourdes, houve um acidente em uma lancha e alguns operários perderam a vida. Degenildo não estava lá, mas o seu nome foi incluído na lista dos mortos. Foi levado ao local por amigos e participou do trabalho de socorro às vítimas, sendo visto por fotógrafos e jornalistas.

Maria de Lourdes da S.P. Duque Estrada, em sua obra “Tributo a um Revolucionário”, documenta, em um relato emocionante, a despedida entre pai e filha: “…e nos seus últimos minutos de vida, ajoelhei-me em sua cabeceira, coloquei minha mão esquerda em seu peito, bem em cima do seu coração, senti que estava bem fraquinho; eram 4h18min quando disse: ‘Pai, podem matar uma ou duas rosas, mas nunca poderão impedir a chegada de uma nova primavera.’ Neste exato momento, às 4h19min, uma lágrima saiu de seus olhos e com minha mão sobre seu peito, senti seu coração parar”.

Degenildo da Silva Pinto foi anistiado pela União e pelo Estado em 2008.

Terça-feira, 03 de Dezembro de 2013, a Câmara Municipal de São Gonçalo aprovou a criação da Comissão da Verdade, cujo objetivo é pesquisar e contar a verdadeira história dos perseguidos políticos de nossa cidade. Eu estava lá. Eu vi.


Agliberto Mendes é colunista de cultura do Caderno Folha Nativa, parceria editorial com o Jornal Daki, e administra o Blog do Vovozinho

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