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Quatro bairros, dois prefeitos e uma população abandonada


A falta de perspectivas para um futuro melhor, o abandono e o descaso, são as principais reclamações dos moradores dos bairros do Apolo II, Apolo III, Jardim Idália e Marambaia. Vivendo sobre o limite territorial entre os municípios de Itaboraí e São Gonçalo, os moradores denunciam que os municípios quase sempre expõem jogo de empurra-empurra entre as administrações responsáveis. Como muitas vezes nem mesmo as prefeituras se entendem sobre onde começa e termina seus territórios, problemas simples, como manutenção em pontes, recapeamento de vias e canalização de esgoto se tornam um problema do cotidiano de quem vive na região.


De acordo com os moradores, os bairros que ficam no limite entre São Gonçalo e Itaboraí estão abandonados e quem vive no local reclama da ausência do poder público. Os moradores contam que a rede de esgoto está sempre com problemas e que não é difícil encontrar esgoto a céu aberto por conta dos entupimentos em várias ruas, além da falta de serviços básicos, como água, asfalto, segurança e lazer.

Os moradores relatam ainda que em alguns pontos do bairro a prefeitura faz reparos no esgoto, mas dois dias depois a rede volta a ficar entupida.

Com o mau cheiro que exala, principalmente nos dias de maior calor, pessoas passam mal com fortes dores de cabeça e enjôos e as crianças não podem brincar na rua pelo alto risco de se contaminarem com doenças perigosas.

De acordo com a tosadora Cristiane de Souza (39), moradora da Avenida Afonso Salles, Apolo III, São Gonçalo, o esgoto a céu aberto em frente ao seu portão está há aproximadamente dois anos e sempre que ligam para Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) para fazer a solicitação de reparo, a companhia diz que é com a prefeitura, quando ligam para prefeitura de Itaboraí, eles orientam ligar para prefeitura de São Gonçalo.


“Fizemos um reparo improvisado para amenizar o problema, sempre que meu marido entra com o carro suja a garagem com este esgoto, sem falar no mau cheiro que fica dentro de casa, nos dias de sol é ainda pior. Eu toso os cachorros em casa e quando os clientes chegam pra deixar seus animais é um constrangimento muito grande vir atendê-los com todo este esgoto no meu portão”, contou Cristiane. Outro problema enfrentado pela população é a falta de água, em algumas residências o sistema de abastecimento não tem força suficiente para chegar às caixas d’água e/ou torneiras.

Moradora há dezenove anos na Avenida Afonso Salles (antiga Avenida um), Apolo III, São Gonçalo, D. Maria José dos Santos (73), diz que já ficou até quinze dias sem receber água na sua residência e que durante o período de festas como natal, réveillon e carnaval a situação piora. “Minha conta d’água está muita cara, estou pagando mais de R$ 300,00 de conta e só cai água de quinze em quinze dias”, contou D. Maria.

Segundo a dona de casa Rosane Morete (47), moradora da Rua Almerinda Trindade Souza, Apolo II, Itaboraí, o bairro sempre teve problemas com abastecimento de água, porém nos últimos meses a situação tem piorado.

“Moro há vinte anos aqui e sempre tivemos este problema, mas agora está pior, estou tomando banho de canequinha, a água não tem pressão para chegar à minha casa. No verão, então nem fala, temos que juntar com os vizinhos para comprar pipa d’água, várias noites eu fico até ás 2h da madrugada esperando cair água, daí carrego no balde para levar para casa, quem tem bomba de sucção ainda consegue alguma coisa”, desabafa a dona de casa.

Ainda na Avenida Afonso Salles, só que agora no trecho de Itaboraí, a calçada está cheia de armadilhas, Dois bueiros situados na mesma calçada tem sido motivo de preocupação para os pedestres, no local além do risco de acidentes, os moradores sofrem com o acumulo de lixo.


Na Estrada Velha de Guaxindiba, rua alternativa por onde trafegam os veículos quando a Avenida Afonso Salles está interditada ou congestionada, faltam asfalto, esgoto e calçamento. Em 2014 a rua foi preparada para receber asfalto, porém a obra está parada. Sem asfalto, os moradores sofrem com a poeira nos dias secos e com a lama e enchente nos dias de chuva.


Na Rua Arnóbio de Almeida, Apolo III, São Gonçalo, os moradores sofrem com problemas como a falta de vistorias técnicas para diagnóstico mais preciso sobre o curso da água e as condições do sistema de drenagem do Rio Goiânia, além da execução de serviços de limpeza manual, desobstrução e recuperação da rede de esgoto.

Na última chuva forte (23) o Rio Goiânia transbordou invadindo várias casas, o local foi um dos mais atingidos com o temporal, sem auxílio das autoridades, os moradores contaram com solidariedade de parentes e amigos.

De acordo com a dona de casa D. Jane Corrêa (63), moradora há trinta anos na Rua Arnóbio de Almeida, com medo dos constantes assaltos os moradores tiveram que comprar lâmpadas por conta própria para iluminar a rua. “Ninguém apareceu aqui para saber como ficamos depois da chuva, nem representantes da prefeitura de Itaboraí e nem da prefeitura São Gonçalo, na última chuva até um cavalo foi arrastado pela força da água”, desabafa a dona de casa.

Segundo D. Edileusa Maria (52), que mora na Rua Arnóbio de Almeida há 6 anos, é impossível sair de casa com o filho que é cadeirante e diz que já perdeu as contas de quantas vezes procurou o poder público para resolver os problemas da rua.


Indignada com a situação, a dona de casa, diz que perdeu o direito de ir e vir em uma rua que não dá acessibilidade para àqueles que precisam de alguma forma, sair de sua casa mesmo tendo limitações por ser cadeirante. “Tenho um filho de 16 anos com paralisia cerebral que depende totalmente de mim, preciso levá-lo para fazer tratamento médico e sair de casa é sempre muito difícil por causa da rua com esgoto a céu aberto e vários buracos. Nos dias de chuva fico com medo da enchente, não vou deixar meu filho pra trás”, desabafa Edileusa. A falta de fiscalização também contribui para a ocupação desordenada no local, uma vez que a construção em cima de canais é proibida por lei e se configura como área não edificante.

Na Rua Adolfo Silva Batista, Apolo II, Itaboraí, a situação fica ainda pior quando chove, o Rio Virgem que corta o bairro do Apolo II transborda atingindo dezenas de casas. Os moradores já perderam a conta de quantas vezes tiveram suas casas invadidas pela enchente.


Já na Avenida Prefeito Gilberto Antunes, Marambaia, São Gonçalo, avenida paralela à Rodovia RJ-104, moradores reclamam do abandono. Falta iluminação, segurança, rede de esgoto, asfalto e o acesso na Avenida foi interrompido por uma cratera, onde se acumulou lixo e um enorme matagal que impossibilita a passagem dos veículos.



Localizar-se na Rua Getúlio Rosa deveria ser uma tarefa simples, mas segundo a dona de casa Deise de Melo, a rua tem dois CEPs, um de Itaboraí e outro de São Gonçalo. A confusão é tanta que em alguns casos, algumas residências estão recebendo dois carnês de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) de ambos os municípios. A mesma Rua Getúlio Rosa esta registrada em bairros diferentes, em Jardim Idália, Itaboraí e em Marambaia, São Gonçalo.

“Moro aqui há 11 anos e sempre foi assim, o esgoto a céu aberto, a rua interditada e sem iluminação e os carteiros não passam mais aqui. Nos reunimos para limpar o terreno, pois o mato cresce e fica muito perigoso”, relatou Deise.

Neste local também existe uma passagem sob o viaduto que liga o Bairro J. Idália e Marambaia, onde se localiza a divisa de limites de municípios. Os moradores reclamam da falta de estrutura nos bairros há anos e nada muda.

De acordo com o presidente da Associação dos moradores do Apolo, Adilson, a associação tem feito o que pode para ajudar a população, recebendo as reclamações e orientando os moradores, mas que a instituição não recebe qualquer apoio da prefeitura de Itaboraí.

Procuradas, ambas as Prefeituras não se pronunciaram sobre o assunto até o fechamento da edição.


Marcos Moura

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