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Disque 100 registra aumento de denúncias de preconceito



Texto: Aline Balbino

“Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”. A frase do físico Albert Einstein foi dita há muitos anos, mas parece que ele via algo que no futuro se tornaria perigoso e incrivelmente comum. O preconceito e a discriminação podem ser encarados de várias formas. As palavras que normalmente são pejorativas magoam aqueles que só querem aceitação. Bichinha, macumbeira, rolha de poço, perneta, paraíba e neguinho.

São alguns dos apelidos dados às pessoas que tiveram uma orientação sexual diferente daquela que é tida como a “normal”, aos gordinhos por não estarem no preso dito “ideal”, para os nordestinos que tentaram uma vida melhor no Rio ou em São Paulo. E quem disse que todo mundo precisa seguir o Cristianismo? Muita gente prefere o Espiritismo e é chamado de macumbeiro e sempre ouve a pergunta: Vai botar meu nome da boca do sapo?

Embora estejamos em pleno século XXI no ano de 2016, o preconceito continua existindo, talvez de forma mais escondida por medo do agressor de sofrer uma ação penal. Mas, o crime nunca deixou de existir. Quando não é dito na “cara”, é feito pela internet. Em 10 anos, a SaferNet Brasil recebeu e processou 525.311 denúncias anônimas de racismo envolvendo 81.732 páginas (URLs) distintas (das quais 18.287 foram removidas) escritas em sete idiomas e hospedadas em 9.573 hosts diferentes, conectados à Internet através de 9.814 números IPs distintos, atribuídos para 58 países em cinco continentes.

Um levantamento do Disque 100 (Disque Direitos Humanos), mostra que diversos tipos de preconceitos parecem estar crescendo no decorrer dos anos. O telefone recebe ligações de pessoas que são vítimas ou já presenciaram algum tipo de preconceito ou discriminação. Os dados apontaram um crescimento de 37% nas denúncias de homofobia.

Em 2011 foram registradas 81 denúncias contra 111 de 2015. Os números de deficientes também mostraram crescimento pulando de 377 para 1.135. Denúncias contra ataques religiosos também cresceram de 3 para 36, ou seja, 1.100%. Apenas denúncias de crimes raciais reduziram de 25 para 16.

Desde a sua inauguração no segundo semestre de 2012, até o final de 2014, o Centro de Cidadania LGBT – Leste realizou 1.587 atendimentos. Em 2014, 25% dos atendimentos do Centro foram para casos de violência homofóbica. Além destas estatísticas oficiais de atendimento do programa, há casos subnotificados, onde a vítima ou família sente medo de denunciar e de sofrer mais discriminação em ambientes que deveriam ser acolhedores das suas demandas. ...com a religião Valeziana Seabra, 40 anos, empresária “A gente sofre preconceito todo dia. Quando você diz que é iniciada no Candomblé a pessoa já te olha com uma cara estranha. E o pior, eles não entendem só porque sou branca. Muita gente acha que essa religião é para negros e pobres. Já me chamaram de macumbeira. Olha para mim e perguntam: Nossa, você é da macumba? É complicado porque quando a pessoa é iniciada ela tem que ficar careca, com palha amarrada. Crianças então, sofrem muito preconceito na escola. As pessoas não entendem que nosso país é laico”. ...com o peso Roberto Garcia, idealizador do programa Mente em Forma “Desde a minha infância, sempre convivi com a realidade do excesso de peso. Eu já senti na pele todas as situações e julgamentos que uma pessoa que luta contra a balança passa no seu dia a dia. Me lembro bem que durante o período do ensino médio meus colegas da escola me chamavam de apelidos, como, "Balofo", "Cabeção", "Bola", e até algumas pessoas próximas, sem a intenção de me magoar, as vezes utilizavam apelidos. Me lembro de ser chamado de "nhonho" (personagem do Chaves) e até "Buda", quando eu cortava o cabelo curto. Apesar de afetar muito a minha autoestima, me sentia na obrigação de aparentar levar tudo na esportiva. Tentei fazer dieta diversas vezes e sempre acabava desistindo pois a comida era um refúgio para aliviar a angústia de ser "gordinho". Apresentei episódios de Compulsão Alimentar.

Porém, quando me formei em psicologia aprendi que a forma como eu penso faz toda a diferença. E me dedicando a estudar ainda mais o comportamento humano, percebi que para emagrecer eu precisava, antes de tudo, trabalhar a minha mente”. ...com a orientação sexual Felipe Carvalho “Sofremos preconceitos e discriminação todos os dias. Não queremos por exemplo, ensinar crianças a serem gays, queremos ensinar as crianças a respeitarem as pessoas. O bom é que não temos casos de violência em Niterói, assassinatos. Mas, no Brasil mata-se por homofobia. Temos casos diários de violência, discriminação em lojas. O que notamos é que a violência tem aumentado contra os LGBTs. Niterói é uma cidade preconceituosa por debaixo dos panos. O grande problema é que as pessoas têm medo de denunciar, medo de não serem ouvidas”. ...por ser nordestina e por já ter sido magra demais Mayara Coutinho, 25 anos, assistente administrativo “Quando entrei para o ensino fundamental tive que mudar de colégio. No colégio novo tinham vários grupos formados e eu tentava me encaixar em algum, porém meus colegas só sabiam me zoar por ser muito magra e por ter família no Nordeste. Um dia minha mãe chegou com um short lindo para eu levar para a aula de educação física, estava apaixonada. No dia seguinte fui à aula de educação física com o short novo e os meninos da turma começaram a rir de mim, chamaram-me de magrela, esquisita, Olívia Palito. Depois disso nunca mais usei o short que minha mãe comprou. Minha família teve que mudar para Natal/RN onde minha família reside, pensei que tudo seria diferente, pois não iam me zoar de paraíba e talvez eles não se importassem por eu ser uma garota magra. Infelizmente não foi o que aconteceu, comecei a ganhar novos apelidos no colégio novo por ser tão magra. As pessoas perguntavam se eu tinha alguma doença”. ...por ser negro Alex Avelino da Silva, 40, professor de educação. “Tenho várias histórias de preconceito por ser negro. Um professor meu já foi demitido porque ele dizia que eu era o causador da confusão. Uma vez na escola as crianças estavam fazendo bagunça e ele botou o dedo na minha e disse que eu comecei a bagunça. Ele foi demitido por isso. Na escola uma menina dizia que minha cor era horrorosa. Quando cresci e me casei tive problemas por me casar com uma mulher loira. A minha sogra não aceitava muito bem. Na rua, minha sogra estava passeando com minha filha que nasceu moreninha e uma senhora parou e chamou minha filha de escurinha”. ...com a deficiência Carol Basílio, 33 anos, professora de educação “Eu sofro preconceito todos os dias porque eu sou uma mutilada. Ser mutilada para uma mulher, principalmente no Brasil é perder o glamour, a característica feminina. Eu perdi 90% do glamour feminino. Quando olham para uma mulher pensam em quadril, perna e bunda. Esse tipo de preconceito rola muito. Os pais, por exemplo, não explicam que a pessoa sofreu um acidente, eles tiram de perto. Eu faço o trabalho com a Lei Seca de conscientização e uma vez eu fui alertar uma família e a criança empurrou minha cadeira. Parei para dar atenção e o pai tirou ele de perto e mandou ele brincar com o cachorro. Outra vez, eu estava em um mercado e uma senhora estava estacionada na vaga de deficiente. Pedi para que ela saísse e ela começou a discutir comigo e me chamou e aleijada. Disse que eu não iria mudar o mundo sozinha”

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