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A democracia gonçalense vista de Alcântara



A menos de 90 dias das eleições municipais, o que mais incomoda em Alcântara, importante polo comercial de São Gonçalo, não são os conhecidos problemas do bairro. Incomoda perceber, vendo as antigas deficiências que se estendem pela cidade inteira, que os gonçalenses ainda não participam plenamente da escolha e exercício do governo municipal.

Alcântara é o ponto perfeito de observação do povo. Graças à fartura de lojas, serviços e oportunidades, gente dos cinco distritos se mistura diariamente entre a Rua da Feira, o Calçadão e o entorno do viaduto da RJ-104. Há pessoas indo e vindo, comprando e vendendo, falando e comendo, sempre com pressa, nunca parando.

As lixeiras transbordam lá mais do que em qualquer outro lugar. Atropelamentos são frequentes na disputa insana entre veículos e pedestres, a lama dos vazamentos de esgoto compõe a paisagem natural, os pontos de ônibus geralmente estão lotados. E o gonçalense circulando em Alcântara não pode refletir por um instante sobre o abandono.

As decisões políticas do Executivo são tomadas à revelia da população, ocupada com o comer e o vestir. A imprensa diária de maior alcance, subordinada aos mandos (e ao dinheiro) do Governo, ignora o impacto dessas decisões no cotidiano quando deveria alimentar a opinião pública com jornalismo de qualidade, pilar central da democracia.

Nas sessões ordinárias da Câmara os vereadores protegem seu “curral” dos inimigos, não raro outros vereadores em atividade, e legislam baseados no mais vantajoso para a manutenção do poder em vez de estimularem o debate político.

O voto obrigatório segue orientações impróprias, como a popularidade do candidato dentro na comunidade, de acordo com o tamanho do investimento na campanha eleitoral. O conhecimento exato sobre as atividades do prefeito e dos vereadores está restrito a poucos indivíduos.

Entre o cidadão e a figura política o distanciamento é tão grande que há pessoas morando sem reclamar em ruas sem asfalto e às escuras porque veem o prefeito como entidade poderosa que tudo sabe e pode castigar. Transformam respeito em precaução, a precaução vira medo pois desconhecem que têm o poder nas mãos.

Os recursos de infraestrutura, transporte e promoção da dignidade humana são geridos em São Gonçalo como se nela vivesse 100 mil pessoas, embora abrigue mais de 1 milhão. Não há tanques nas ruas, mas a falta de informação, cultura e educação se encarrega da restrição da liberdade democrática como em poucas cidades brasileiras.


Mário Lima Jr. é analista social e político

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