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O imbróglio da garagem e suas consequências para o governo Nanci



O jogo político é um jogo bruto, pesado e são raros aqueles que garantem a ele leveza e sofisticação. Esses, por extrair desse jogo elementos não perceptíveis ao senso comum, vão longe e se destacam na carreira - sim, para esses, a política é inerente à vida - como lideranças natas que conduzem à sociedade por caminhos tortuosos ou da virtude .

O imbróglio na garagem da prefeitura envolvendo o vice-prefeito da cidade e a esposa do prefeito, alçada por ele à zeladoria da prefeitura, terá efeitos profundos no governo que só o tempo poderá nos revelar a sua dimensão e alcance.

Segundo relatos publicados na mídia alternativa, impressa e digital, neste final de semana, Eliane Nanci descobriu um suposto esquema de desvio de combustível na garagem da prefeitura e responsabilizou frontalmente o vice Ricardo Pericar, que administrava o espaço desde o início do governo. Era da garagem que partia os mutirões de limpeza que rendeu a Pericar relativa notoriedade no município.

Fontes do governo corroboraram a história, que tem contornos de tensão extrema entre ambos, Eliane e Pericar. A coisa foi deveras grave, e se não houver uma operação abafa imediata, será impossível impedir que, além das óbvias implicações políticas, o fato resvale para a esfera criminal. Afinal, quem acusa deve ter razões concretas para fazê-lo; e quem é acusado, se considerar injustamente, não aceitará conviver com a ofensa à honra e à reputação, para um político o seu maior patrimônio.

Os desdobramentos políticos do ocorrido têm muitas variáveis e nenhuma delas favorece o governo. Ontem mesmo, numa ação atrapalhada, o governo tentou botar panos quentes no episódio publicando um vídeo em que José Luiz Nanci, visivelmente constrangido, reafirma sua confiança no vice, que ouvia impassível as palavras do prefeito.

Os dois não trocaram olhares, evidenciando que mágoa e constrangimento serão forçados a conviver daqui para frente. Se a relação entre ambos era um vaso quebrado, agora a loja inteira de cristais veio abaixo.

Ricardo Pericar, desde já candidato a deputado estadual, vinha desenvolvendo um trabalho que caía como uma luva às suas pretensões em 2018. Literalmente com a máquina na mão, teve ascensão e visibilidade meteóricas à frente dos mutirões que retiraram toneladas de lixo das ruas. Midiático, soube utilizar a seu favor as redes sociais; blogs e sites (inclusive este) repercutiram sua empreitada e, nesta semana fatídica, chegou a ser capa do suplemento Mais São Gonçalo do jornal Extra.

Ele, que já fora preterido da secretaria de obras por Nanci, se adaptou bem ao Plano B conduzindo a garagem da prefeitura e ali parecia conformado.

Mas a extensão da mágoa em Ricardo Pericar será o senhor dos seus atos agora e, embora não muito comum em vice-prefeitos, é possível que parta para a oposição surda ou raivosa, o que o forçará a se aproximar de sua antiga casa, a Câmara, e dos vereadores insatisfeitos com o governo, que não são poucos. E a tendência é aumentar com maior ou menor velocidade se a situação econômica não ajudar o prefeito ainda este ano.

As consequências são imprevisíveis e nem o impeachment pode ser descartado, dada sua banalização que levou a queda da presidente Dilma Rousseff em 2016.

A jurisprudência estabeleceu que já não é mais necessário a materialidade de crime de responsabilidade, basta haver condições políticas para dar cabo ao afastamento do chefe do executivo.

Hoje, mais do que nunca, a condição de vice virou um problema para o governante, sobretudo quando ele é articulado, como é o caso do ressentido Pericar. E, pior ainda, aliado a um dos maiores estrategistas políticos da cidade, o vereador Sandro Almeida, que deve ter visto no episódio uma janela de oportunidades.

A atitude voluntariosa e impensada de Eliane Nanci, não só coloca o governo em xeque, mas também acende um alerta vermelho em todo o secretariado que compõe as pastas a partir de costuras políticas com José Luiz Nanci. O episódio mostrou que ela jogou às favas as aparências.

Gato escaldado tem medo de água fria. Nesse caso, é melhor colocar a foto da primeira dama na parede.

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