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A prisão dos policiais em SG e a eterna 'enxugação de gelo'



O Brasil (sim, quiçá o mundo!) mal acordou hoje e descobriu estupefato o desenrolar de uma operação realizada numa certa cidade da região metropolitana do Rio para prender 96 policiais militares envolvidos em corrupção e associação ao tráfico de drogas.

A operação, batizada de Calabar, expediu mais de 200 mandados de prisão. A investigação abrangeu os anos de 2014 até 2016, com mais de 2.500 ligações interceptadas por agentes da Polícia Civil carioca.

A dimensão da operação, que contou com centenas de policiais civis e outras dezenas de promotores do ministério público, junto à quantidade de policiais com mandado de prisão, que corresponde a 15% do efetivo do 7º Batalhão em São Gonçalo, só tem paralelo ao expurgo feito nos anos 1930 no distrito policial de Chicago, então terra do todo poderoso Al Capone.

Coisa de louco.

A cultura do arrego praticada por funcionários públicos, crime imputado aos policiais hoje, está entranhada no país e vem de longo tempo num lugar onde a contravenção sempre foi tolerada.

Desde a extorsão aos 'escravos de ganho' no centro do Rio, passando pelas mesadas nos pontos de jogo de bicho, os rapas nos camelôs e, enfim, a associação criminosa ao tráfico do varejo nas centenas de favelas que se ergueram devido a omissão do poder público.

Os 96 pobres diabos, se comprovada a culpa, irão do céu ao inferno. Serão presos e perderão o status de servidores públicos, benefícios e garantias do estado, que fatalmente deixarão suas famílias ao relento e estigmatizadas. Cumprida a pena, restará ao policial a informalidade ou o crime, caminho que muitos acham ser o único no seio das milícias.

E a nossa tragédia se retroalimenta.

Muitos podem se perguntar: mas por que, com todos esses riscos, o camarada se mete com o errado?

Ora, num país onde helicópteros e aviões recheados de cocaína não têm dono, onde dezenas de fuzis passam tranquilamente pela alfândega e onde os verdadeiros traficantes têm amigos desembargadores, por que o policial de caráter mais maleável não vai se arriscar, ainda mais numa situação em que o estado está falido e atrasa salários?

E tem outro lado mais comezinho, que é o racismo, o desprezo e a criminalização da pobreza por parte da sociedade, refletida nas academias militares que não preparam cidadãos armados para protegê-la, mas para segregar os desvalidos à sua própria sorte. Extorquir os desgraçados traficantes nas ruelas da favela acaba sendo para eles um ato benevolente para não prendê-los ou matá-los.

E assim vivemos na eterna 'enxugação de gelo' achando que bandido bom é bandido morto.

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