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A violência ou mata de tiro ou de medo



Divulgação

Rosângela tem 42 anos, mora na parte mais urbanizada do Paraíso e precisa estar todos os dias às 6 horas no ponto para pegar o ônibus até o Centro do Rio. Às 6:04 ela e mais 9 pessoas são assaltadas vítimas de um arrastão. Às 7:20 da manhã Márcia coloca carinhosamente seu filho na van que o levará protegido para a creche, ele tem 2 anos. Minutos depois, bandidos armados até os dentes em fuga da polícia roubam a van com o filho de Márcia e mais um coleguinha de mesma idade. Comoção e apreensão geral. A polícia age rápido, acha o carro com as crianças, e todos ficam a se perguntar aonde chegamos.

Dona Maria, 64, morava no Salgueiro e saía para trabalhar ainda de madrugada. Não podia faltar ao emprego, daí vinha sua coragem em encarar os tiroteios na favela. Sempre buscava rotas alternativas para pegar o ônibus a quase 1 km de sua casa. Em dias de ‘paz’, bastava caminhar 50 metros para pegar o coletivo no ponto final. Nesse dia não deu sorte, e uma bala perdida - que até hoje não se sabe de quem e de onde veio - perfurou seu fígado. Faleceu numa viela antes de ter ajuda.

Poderia dar outras centenas de casos verídicos de violência desmedida a que estamos entregues como esses acima. Os nomes são fictícios. Segundo informações do Instituto de Segurança Pública (ISP), casos de furtos, assaltos e latrocínios explodiram nos últimos dois anos em São Gonçalo. O número de ‘bocas de fumo’ e a presença do controle do tráfico nos territórios se ampliaram, sem que com isso tenha aumentado a demanda, isto é, o número de viciados consumidores. Mas os jovens traficantes, com média de idade que não supera os 18 anos, estão a exibir seu poder com um armamento que nem no Brasil é fabricado. Fuzis, pistolas e munições entram no país e no estado de alguma forma, mas as autoridades devem achar mais inteligente apreender as armas fatais trocando tiros com marginais na favela.

Debater segurança pública sempre foi uma coisa complexa para quem é entendedor do assunto, e muito penoso para um leigo que exige respostas rápidas e objetivas das autoridades que demonstram, de modo assustador, terem perdido o controle sobre a criminalidade e a violência em toda a região metropolitana do Rio de Janeiro. E alguns fatos provam isso.

Ano passado o governador foi à Brasília pedir de joelhos auxílio do Exército e da Força Nacional para conter a onda de roubo de cargas e dar apoio de aborbagem em áreas conflagradas, como o Jacarezinho, Rocinha e o Salgueiro que, aliás, teve sete moradores chacinados e não se fala mais nisso.

Mais de 130 policiais foram assassinados em 2017, um recorde macabro que nenhum lugar civilizado gostaria de ostentar. Em São Gonçalo, em particular, tirar ou colocar o carro na garagem e manusear o celular na rua nunca são feitos sob ausência de emoções fortes. O bairro da Brasilândia poderia facilmente mudar de nome para Roubolândia. Os assassinatos em 2017 no estado totalizaram quase 7 mil vítimas segundo o ISP, números que escancaram o quão doentes estão a sociedade e as instituições.

Os casos de violência e a certeza da insegurança nas ruas têm um efeito devastador nas pessoas porque nelas é instalado o medo, e o medo paralisa, quando não gera paranoia ou evolui em casos extremos para a síndrome do pânico, uma doença silenciosa de difícil tratamento. O mal social causado pela violência se alastra para a economia: menos gente na rua, menos consumo, e o ramo que mais sofre com esse estado de coisas é o comércio noturno, com seus bares, restaurantes e boates vazios, justamente num momento de grave crise econômica e recessão. São Gonçalo, conhecida por sua noite pujante e animada, está silenciosa. Mas ainda resiste. Só não se sabe até que ponto de estrangulamento dessa atividade econômica que emprega milhares de trabalhadores na cidade.

É um pesadelo. Mas há saídas para amenizar na cidade o problema, já que resolvê-lo por completo é uma utopia, porque não estamos preparados ainda para debelar a desigualdade social brasileira, raiz de toda a violência.

Sociedade civil e classe política locais devem fazer um pacto para pressionar o governo do estado a ampliar o contigente do 7˚ Batalhão, que hoje possui apenas 870 homens, mas que efetivamente cede às ruas diariamente 220 policiais para uma população de mais de 1 milhão de habitantes.

Aumentar o efetivo e ampliar o policiamento ostensivo é um bom começo, o feijão com arroz para devolver à população parte da segurança perdida. Outras ações são tão importantes quanto, mas é fundamental nesse momento a presença massiva de policiais nas ruas, de preferência bem treinados, respeitosos e com viaturas que não estejam caindo aos pedaços.

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