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'Luiz Gama' é completo: informa, educa e diverte



Jornalista, poeta, ex-escravo e rábula responsável pela libertação de mais de quinhentos irmãos ilegalmente escravizados: Luiz Gama.

Gama teve boa parte da vida apagada pela cruel borracha da História do Brasil, assim como outros grandes homens de nossa pátria (nem sempre tão gentil) que tiveram injustamente seus nomes lançados às masmorras do esquecimento. Poderia citar alguns desses, mas o artigo não quer perder o caminho de liberdade e aprisionamento, de poético e rude, de lúgubre e iluminado, que foi o caminho de Luiz, desde pequeno. E ao crescer, contra os grilhões, as correntes, os açoites, as lágrimas e as dores ele também cruzou.

Partindo do princípio de encenar a vida e obra de Luiz Gonzaga Pinto da Gama, o talentoso Deo Garcez mergulhou profundamente nos manuscritos do herói. Não poderia ser por menos, tendo em vista o gosto de Garcez desde a adolescência pelos clássicos da literatura, ainda lá em São Luiz do Maranhão, que muito influenciou em sua formação acadêmica. Nessa fase da vida ele assistiu pela primeira vez uma peça teatral na escola onde estudava, que despertou seu sonho de ser ator, o que veio a se concretizar com papéis marcantes no Teatro, no Cinema e na TV, anos depois. Mas Deo não sabia e tampouco nós – talvez Dionísio, mas preferiu calar-se por todo esse tempo - que ele viria nos presentear com uma tão impecável interpretação, natural e verdadeira – sem desmerecer seus demais papéis, longe disso - , fazendo emocionar até quem não conhece a brilhante história desse que tornou-se o maior abolicionista nacional, a primeira voz negra de nossa literatura, para o deleite do público.

O espetáculo “Luiz Gama – uma voz pela liberdade” é um emaranhado de crônicas, fatos históricos, amor pela vida humana, justiça social, onde a poesia une-se com todo seu encanto e sutileza. A peça não se limita apenas na representatividade desse grande herói brasileiro, cada vez mais notória e relevante sua importância em nosso país, tendo em vista seu reconhecimento como advogado em 2015 pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), ou seja, 133 anos após sua morte. Vai além disso, por trazer à tona reflexões sobre o preconceito racial em nossa sociedade, em pleno século XXI, infelizmente ainda pertinente.

Em sintonia com Deo Garcez a atriz Nivia Helen, que se divide em diversas personagens, entre elas a musa inspiradora Luísa Mahin, mãe de Luiz Gama. Num jogo de verso e prosa, solos em cada qual seu momento, pessoas que na época faziam parte do círculo de vida do homenageado ali vivenciadas, enriquecem ainda mais a montagem. Helen, que não diferente de seu colega de cena, traz em seu currículo novelas, filmes, peças e trabalhos em publicidade. Um casamento perfeito, para juntos contarem a história de Luiz Gama, sem tirar nem por.

A cenografia remete a uma ambientação clássica e intimista, do século XIX. Uma mesa de canto e duas cadeiras da época, onde os atores expressam as dualidades e os gestos cênicos se fazem fluir.

O drama de quem nasceu numa época em que a cor da pele era sinônimo de servidão, as chibatadas do feitor, a infelicidade de ter sido vendido pelo pai para pagar uma dívida de jogo aos dez anos de idade, a dificuldade financeira, mistura-se com o humor peculiar de um poeta que ao ver tudo perdido opta por sentar e escrever um poema para sorrir pois as lágrimas já secaram.

E isso Luiz Gama soube fazer muito bem! Com um porém: os olhos sempre apontados para vitória. De quem nasceu livre pelo pai branco e mãe negra alforriada. Que aprendeu a ler e escrever sozinho. Esse, que frequentou a faculdade de Direito como ouvinte e mesmo sem diploma libertou centenas de escravos. Que sempre teve fé na vida e foco em tudo o que fez. Que teve uns que alimentaram sua luz, outros que tentaram apagá-la. Que teve aqueles que aplaudiram felizes suas lides em defesa da liberdade enquanto outros fecharam a cara pelas derrotas. Que teve, merecidamente, milhares que choraram em sua derradeira saga, quando assim Oxalá quis concluir sua missão na Terra.

Seu nome é sinônimo de luz: Luiz. E que essa luz sempre seja apontada aos negros e negras de nosso país, ainda que seja incômoda a vitória quando se tem a cor preta, para muitos dos brasileiros.

“Luiz Gama – uma voz pela liberdade” é um belíssimo espetáculo que informa, emociona, educa e faz o espectador se divertir, em torno de uma temática tão séria, o preconceito.


Ficha técnica

dramaturgia: Deo Garcez

direção, figurino e cenografia: Ricardo Torres

elenco: Deo Garcez e Nivia Helen

stand-in: Soraia Arnoni

áudio de apresentação (voz): Milton Gonçalves

trilha sonora: Ricardo Torres e Deo Garcez

iluminação: Alan Leite e Vinícius Gaspar

operador de luz: Arildo Jr.

operador de som: Ricardo Torres

produção executiva: Alan de Jesus e Mário Seixas

programação visual: Mário Seixas

caracterização: Márcia Elias

ass. de imprensa: Alan de Jesus e Mário Seixas

produção: MS produções

coprodução: Olhos D’Água e Nova Criativa

fotos: Jean Yoshi, Vivian Fernadéz e Maurício Code

Serviço

Teatro Municipal de Niterói, 35, Centro de Niterói

Rua XV de Novembro, 35

Dias: 06, 07 e 08 de julho Horário: Sexta às 20h, sábado e domingo às 19h

R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia) R$ 20,00 (lista amiga sáb. e dom./ sexta-feira R$ 10,00)

Ingressos à venda no ingressorapido.com.br ou na bilheteria do teatro

Tel.: 2620-1624


André Santana é poeta, cronista, ator e produtor na Mironga Produções Artísticas

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