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Cada vez mais desiguais, por Mário LIma Jr.



O Brasil se tornou o nono país com a maior desigualdade de renda dentro de um conjunto de 189 países analisados. Injustiça que afeta principalmente mulheres e negros brasileiros, este é um dos destaques do relatório “País estagnado: um retrato das desigualdades brasileiras – 2018”, publicado no dia 26 de novembro pela organização não governamental Oxfam Brasil.

Baseado nos dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e nas Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílio (PNAD-IBGE), o relatório da Oxfam menciona números preocupantes, mas que passam longe das discussões para formação do novo Governo. Mesmo eleito, Jair Bolsonaro não toca em questões sensíveis, como discriminação racial, e concentra parte do seu esforço diário compartilhando memes contra petistas nas redes sociais.

A redução da desigualdade de renda parou pela primeira vez nos últimos 15 anos. A renda das mulheres retrocedeu em relação à dos homens, algo que não acontecia há 23 anos. E embora negros ganhem em média apenas 53% da renda dos brancos, desde 2011 o desequilíbrio não é reduzido. Na verdade, entre 2016 e 2017 a desigualdade entre grupos raciais até aumentou. O resultado é um país com 15 milhões de pessoas pobres – 7,2% da população sobrevivem com uma renda de US$ 1,90 por dia, critério de análise adotado pelo Banco Mundial.

De acordo com o Índice de Gini, ferramenta que mede o nível de concentração de renda em determinado grupo e mostra a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos, o grau de concentração de renda no Brasil é de 51,3. Quanto mais próximo de 0, menor a desigualdade. Os países europeus apresentam os melhores indicadores do mundo e o coeficiente da Noruega, por exemplo, é igual a 25,9.

Elegemos Jair Bolsonaro para “acabar com essa vergonha que está aí”, reproduzindo literalmente a superficialidade do bolsonarismo. Para o futuro Presidente, isso significa expulsar médicos cubanos e a “petralhada” do território nacional e expurgar da Educação a influência de Paulo Freire, educador respeitado em importantes universidades estrangeiras.

Em 2017, brancos ganharam em média R$ 2.924 por mês, enquanto negros receberam R$ 1.545. O gênero e a cor da pele impõem condições sociais que reduzem os rendimentos do brasileiro, prejudicam sua qualidade de vida e aumentam as chances de ser assassinado. Não há vergonha maior a ser combatida.

Na oitava economia do planeta, a riqueza segue para as mãos lisas e brancas de poucos. Quase 30% da renda nacional pertencem a 1% dos habitantes, a maior concentração do tipo no mundo inteiro, e o número de negros entre os mais ricos é de somente 18%.

As propostas de redução do Estado e de uma economia ultraliberal não sugerem vantagens para ninguém além dos atuais donos do capital. Se o Governo Bolsonaro não perceber, entre outros equívocos, que as mudanças climáticas são um grave problema global, não poderá apoiar soluções que respeitem o meio ambiente enquanto geram emprego e lucro. Enfim, uma escola que não ensina a compreender o país desigual em que vivemos não vai construir cidadãos capazes de criar um Brasil mais justo.


Mário Lima Jr. é escritor.

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