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Existe um vazio na Presidência, por Mário Lima Jr.



Existe um vazio na Presidência do Brasil. Ele não foi causado pela viagem de Jair Bolsonaro ao exterior para participar do Fórum Econômico Mundial. O Fórum permitiu, entretanto, nova constatação de uma ausência angustiante. A falta de intimidade com a alma brasileira acompanhou Bolsonaro a Davos e seguirá o presidente para onde ele for.

No início do mês, tomou posse um sentimento de ódio contra a esquerda, ao invés de uma proposta específica para o país. Nem na tribuna do Fórum Econômico Mundial, em pleno discurso de abertura do evento, o revanchismo descansou, empobrecendo o discurso do presidente e a imagem do Brasil perante investidores.

Bolsonaro falou em defender os verdadeiros direitos humanos e os valores da família. Algo assustador para as pessoas mais equilibradas porque essas palavras serviram muitas vezes para disfarçar o preconceito, a tortura e o assassinato. Não existem direitos humanos verdadeiros e falsos, apenas o compromisso, do qual o Brasil faz parte, do respeito absoluto à dignidade humana. O americano Robert Shiller, prêmio Nobel de Economia, chegou a declarar que Bolsonaro lhe dá medo e que o Brasil merece alguém melhor.

Os jovens dizem que votaram no cabo Daciolo para presidente porque ele tinha os memes mais engraçados das redes sociais. Daciolo não foi eleito, mas Bolsonaro tem muita coisa em comum com um meme. Ele é limitado e repetitivo, só não é engraçado.

O presidente não sabia como ser melhor em Davos. Ofereceu tudo o que tinha, tudo o que é. O combate ao chamado viés ideológico não sai da sua cabeça. O mundo precisa descobrir como usar o desenvolvimento econômico, de forma sustentável, com o intuito de gerar benefícios sociais. A única ideologia que importa é que isto seja conquistado respeitando a liberdade humana. O resto é meme do Facebook. Bolsonaro citou apenas metade dessa necessidade universal e não explicou como implementaria suas ideias.

O conteúdo correto, não a duração, torna um discurso capaz de atrair investimentos. No caso do pronunciamento brasileiro, ele foi curto e pobre. O presidente tinha trinta minutos à disposição e usou menos de sete. Faltou expor as carências brasileiras, suas exigências e vantagens para o capital estrangeiro. Houve somente promessas. E talvez assumir que massacramos negros e índios há séculos em território brasileiro, afinal, o objetivo do Fórum Econômico Mundial é melhorar a situação de cada país participante.

Para o brasileiro que compreende o gigantesco esforço de presidir o país, a sensação de vazio não acabará tão cedo. Como se não houvesse motivos para angústia, são graves as notícias indicando o envolvimento do sobrenome Bolsonaro com corrupção e violência. A facilitação do acesso às armas leva a crer que o projeto bolsonarista, desde a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, é construir uma grande milícia reacionária.

Pregador da violência, Jair Bolsonaro está abaixo das qualidades necessárias para representar o povo brasileiro. E ninguém no governo foi capaz de intervir para preencher as lacunas deixadas até agora.

***

Nota do autor: Quando escrevi esse artigo, ainda não haviam destruído Brumadinho e a participação de Bolsonaro no Fórum Econômico Mundial era o acontecimento mais importante da semana.


Mário Lima Jr. é escritor.

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