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De sigla em sigla, por Fábio Rodrigo



Era um assalariado de meia idade e queria solicitar a renovação de seu benefício social do trabalhador. Foi informado que, para realizar o requerimento, deveria se dirigir ao CAT. Só quando chegou lá é que soube o que era CAT: Central de Atendimento ao Trabalhador. Deram-lhe um formulário no qual lhe pediam seu RG, CPF, número do PIS, do NIS, o DAT, o DCB, o DER e o DIB.

— O senhor conhece a plataforma do MTE?

— Que é isso?

— Ministério do Trabalho e Emprego. É onde o senhor poderá solicitar a renovação do seu benefício. Caso queira dar entrada aqui mesmo, deverá se dirigir ao RET.

— Mas não posso pedir aqui?

— Não. Aqui somente coletamos seus dados que são encaminhados para o setor de Registros de Eventos Trabalhistas. O RET, conforme lhe informei, senhor.

Dirigiu-se ao setor e a atendente lhe pediu a cópia da Certidão Negativa de Débitos do Segurado.

— O senhor trouxe a CNDS?

— Minha filha, eu trouxe estes documentos aqui. Só não sei se o número disso tá aqui.

— Senhor, a CNDS é uma certidão expedida pela PGS, a Procuradoria Geral dos Segurados.

— E como eu faço pra pedir esse... esse... essa CNDS?

— O senhor terá que se dirigir até lá. No final do corredor, é a última sala à direita.

Chegando lá, mais um formulário lhe esperava. Desta vez, lhe pediram o RGPS, o RPPS, o NFLD, o NFDS e o RDGS. Informaram-lhe que sua solicitação seria encaminhada ao BNDT (Banco Nacional de Devedores Trabalhistas) e que deveria aguardar o prazo de 30 dias úteis.

— Mas por que este prazo?

— Infelizmente, o prazo é este, senhor.

— Mas eu não posso aguardar este tempo todo! — disse furioso. — Eu quero urgência no meu atendimento. Eu dependo deste benefício!!! Isso é um absurdo!!! Quero fazer uma reclamação agora!!!

De forma bem calma, a atendente explicou que seria só na CRS, a Central de Reclamação do Segurado. Indignado, o trabalhador nem quis saber de conversa e foi direto pra casa.

Depois disso tudo, só nos resta refletir no quanto as siglas são importantes para o enriquecimento da língua portuguesa, apesar de tudo levar a crer que são elas que atrapalham o funcionamento do país.


Fábio Rodrigo Gomes da Costa é professor e mestre em Estudos Linguísticos.

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