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Desastres ditos naturais e São Gonçalo, por Oswaldo Mendes


Especial para o Jornal Daki


Em Itaoca manguezal desmatado para abrir estrada que leva ao Comperj Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo

No dia 6 de abril deste ano a cidade de São Gonçalo comemorou 440 anos do recebimento da Sesmaria por Gonçalo Gonçalves.

Cidade que em seu hino cita as chaminés e efetivamente poucas ainda existem, sempre vemos ainda a do Portão do Rosa, mas fumaça já não mais há. O Bairro de Neves, entrada do grande potencial da cidade modificou.

Das oito bacias hidrográficas que a cidade tem subdividem-se em mais de cem afluentes; há problemas identificados nas bacias hidrográficas da cidade de São Gonçalo que são desde o assoreamento, recebendo esgoto sem tratamento com ocupações irregulares, até a falta de matas ciliares.

Alguns dos problemas que afetam a cidade com relação ao Meio Ambiente é o desmatamento, retilinização de rios, aterramento de lagoas, charcos, pântanos e lagunas, impermeabilização do solo, construções irregulares e falta de drenagens. Há vinte anos relatava isso a Jornalista Simone Terra, em o “Nosso Jornal”.

A criação de loteamentos sem qualquer estrutura também reinou pela cidade, dentre eles podemos citar Jardim Catarina, autorizado pelo então Prefeito Lavoura.

Historicamente a cidade recebeu atividades que trouxeram grandes impactos sócio-ambientais, dentre eles a rodovia Niterói-Manilha e a Estrada do COMPERJ, sendo a primeira no Governo Militar e a segunda em meados de 2011, as quais deveriam ser amparadas por Estudos de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto de Meio Ambiente – EIA/RIMA( Resolução CONAMA 01/86 e 237/1997).

A contra partida para São Gonçalo sempre foi esquecida. Da criação do cemitério de São Miguel para desvalorizar as terras de inimigos políticos, por briga política, com a desculpa que era para os mortos do incêndio de Niterói; o lixo do Bumba, e outros diversos casos de comunidades trazidos para a cidade.

No Governo Militar diversas comunidades foram removidas compulsoriamente para a cidade colocadas em outros ambientes: Salgueiro, Maveroi, Favela dos Ossos(Lagoa Rodrigo de Freitas) Morro dos Macacos, Morro do Estado, Maré, dentre outras.

Com o advento do Conjunto da Marinha e Conjunto da PM, no Salgueiro, os militares não viram com bons olhos morar num local sem qualquer estrutura, em local pantanoso, onde animais como cobras e jacarés são nativos, assim sendo foram ocupados por outras pessoas advindas de cidades distantes, facilitadas pela Ponte Rio-Niterói e a Niterói Manilha.

Notem que a Niterói-Manilha é o primeiro paredão entre a cidade e o mar, dificultando escoamento de fluídos de qualquer tipo e a Estrada do COMPERJ também se enquadra neste tipo de construção, sem trazer nenhum benefício para a cidade.

A renda per-capita dos moradores da cidade é baixíssima e também da mesma forma a escolaridade é baixa ou quase inexistente, sendo por muito tempo considerada uma cidade dormitório, o que, a nosso ver, vem alterando, inclusive pelo motivo de desemprego, com poucas ou nenhumas áreas de lazer, o que somados aliam-se para níveis estratosféricos de violência, isto numa população de quase um milhão e cem mil pessoas, conforme o IBGE.

O município tem baixa arrecadação e dívidas altíssimas, o que impossibilita investimentos de maior porte e a questão política sempre foi tratada de forma populista, com casos de violência e corrupção, o que nada mais é do que espelho, reflexo de uma Sociedade. Causa e efeito.

São Gonçalo tem na verdade um grave problema sócio-político-ambiental, sendo que o homem é parte integrante do Meio Ambiente e animal político, assim sendo, toda e qualquer solução terá que advir da própria cidade e não existe receita de bolo para isso. O caminho, meio, método para solução dos problemas da cidade tem que ser construídos, mas notem que é por todos e não jogando a culpa em um ou outro.

Com relação a policiamento temos menos uma dezena de vezes policiais do que Leblon, proporcionalmente ao quantitativo de moradores e com números de assassinatos que ficam em torno de sessenta por mês. Perdemos Barreto, estamos ainda sem transporte hidroviário e ainda doamos Piratininga.

Mas neste momento histórico passamos, mais uma vez, por problemas com relação a chuvas e alagamentos, os quais devem ser analisados o EIA/RIMA que foi apresentado para a construção da Estrada do COMPERJ e o comparativo do escrito e aprovado com a realidade, a qual coloca a cidade em desespero, e tomadas medidas cabíveis pelos órgãos e pessoas competentes, para que não sejam inclusive, em tese, consideradas ações de obrigação aos cargos e assim omissão.

Que a frase ”Legislar e Fiscalizar” venha em função de bons resultados.

Não há muita diferença entre o que aconteceu em Brumadinho e nesta semana com as chuvas em São Gonçalo além do nome da empresa. Só o nome, pois o desespero de quem lá mora é o mesmo. Alguma coisa tem que ser realizada por todos, pois já vivemos no caos.

Oswaldo Mendes é Sambista.


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