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Bairro de classe média, por Fábio Rodrigo



Era um bairro de classe média. Apesar de estar sempre imprópria ao banho, a praia é o cartão postal do bairro. No calçadão da praia, dia e noite, grande parte dos moradores faz sua caminhada habitual, enquanto outros preferem dar uma corridinha. Até aí tudo bem, tudo aparenta uma boa convivência entre eles. Mas, tem sempre um problema para a prefeitura resolver com esse povo. A conjunção adversativa “Mas” por si só já diz tudo. O contraste de interesses é o que une os moradores do bairro.

Ao lado do calçadão, a prefeitura criou uma ciclovia, pois os atletas amadores questionavam a presença dos ciclistas na calçada. Alegavam que ofereciam risco não só àqueles que faziam sua caminhada ou corrida, mas também aos transeuntes. Recentemente, os ciclistas questionaram a presença de pessoas com cães na ciclovia. “Lugar pra passear com cão é na calçada” – diz um frequentador da ciclovia. O representante dos ciclistas de rua da cidade protocolou um pedido na secretaria de ordem urbana para que tomem alguma providência.

Há moradores que passeiam com os cães na calçada. Daí foi a vez do grupo de atletas amadores cobrar da prefeitura a construção de uma faixa para passeadores de cães, já que estes animais oferecem riscos àqueles que transitam pelo local. “Não são todos que colocam focinheira nos cães” – disse uma representante dos atletas de caminhada e corrida. – “Ou todos colocam, ou então deve haver outro espaço para eles” – emendou.


“É um absurdo não podermos passear com nossos cãezinhos” – disse angustiada uma moradora de um prédio em frente à praia. E continuou: “Tomamos os devidos cuidados quanto à focinheira e não deixamos dejetos nas calçadas. Não sei por que esta implicância com a gente”. “Não há lei que nos proíba de passear com os cães nas calçadas” – acrescentou a representante dos passeadores de cães.

O secretário de ordem urbana disse que estuda a proposta de construção de uma faixa para os moradores passearem com cães. Ainda está decidindo se a faixa cortará parte da área da praia, diminuindo o espaço de banhistas que ficam na areia, ou se dividirá a calçada em duas, o que provocará a ira dos que usam a calçada.

Com o crescimento do número de adeptos de patinetes, surgiu outro problema de ordem urbana. Qual o lugar deles: na ciclovia ou na calçada? Segundo os ciclistas, “ciclovia é pra ciclista e pra mais ninguém”. Para a representante dos atletas de corrida e caminhada, a calçada não é lugar deles: “Que procurem outro lugar para andar de patinete!”

Os patinetistas fizeram um protesto na via pública e pediram à prefeitura um local para a prática deles. Resta saber como a prefeitura vai resolver mais este problema.


Fábio Rodrigo Gomes da Costa é professor e mestre em Estudos Linguísticos.


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