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A pandemia mudou a sociedade? Por Karla Amaral

A pandemia escancarou a superexploração do trabalho e a classe dos precarizados/Foto: Blog Boitempo
A pandemia escancarou a superexploração do trabalho e a classe dos precarizados/Foto: Blog Boitempo

Em 2020 nos jornais, na televisão, nas lives, nas redes sociais as temáticas são semelhantes: ‘como o Coronavírus vai mudar nossa vida? Como será o mundo pós-pandemia? Como será o novo normal?’ As pautas envolvem mudança de hábitos, rever os valores da sociedade, novas formas de trabalho online, readequar rotinas.


Março de 2020. Pós-carnaval. Início do ano (de fato) no Brasil. Anúncios na TV do avanço da Covid-19 no mundo. Situação de emergência, redução de horários dos comércios, suspensão das aulas. Todo mundo em casa. Para proteção de todos, questão de saúde pública. Primeiro caso de morte pela Covid no Rio de Janeiro foi noticiado no dia 17 de março. Uma mulher de 63 anos. Trabalhava como empregada doméstica no Leblon e residia em Miguel Pereira. Sua patroa tinha retornado recentemente de viagem da Itália e testou positivo para a doença pouco tempo antes da confirmação de sua morte. Quem pode ficar em casa? Em qual casa?


Dia 22 de março o presidente da república edita medida provisória que autoriza a suspensão do contrato de trabalho por até 4 meses. A empresa concede ajuda compensatória mensal sem natureza salarial mediante negociação. Após críticas o presidente revoga o trecho da MP que autoriza a suspensão de salários por 4 meses. Como ficar em casa?


Diferente de outros países a pandemia chega ao nosso país no meio de uma crise política, econômica e social. Este cenário dificulta ainda mais o enfrentamento da propagação do vírus que revela de forma gigantesca a desigualdade social, o desprezo pela vida humana e pobreza.


Não é minha intenção aqui fazer análise de conjuntura no olho do furação. Não pretendo isso! Estou tentando somente sobreviver, assim como você! Apesar disso, refletir sobre a existência faz parte do ser humano (e para uma psicóloga é bem provocativo).


Poucos foram o que se propuseram analisar de forma macro a sociedade na pandemia de Covid-19. Zizek filósofo esloveno foi um desses. Suas indagações nos ajudam a ensaiar pequenas análises do impacto da pandemia para a sociedade. O filósofo propõe em suas análises uma saída/caminho para nossa sociedade: a solidariedade incondicional e uma resposta globalmente coordenada. Para ele, a pandemia expôs a não centralidade do ser humano no Planeta e os limites da sociedade capitalista.


Diante disso, que reflexão podemos tirar a respeito da pandemia e seus impactos na sociedade? Num País que precisamos reafirmar que a Terra é redonda e que vacinas salvam vidas, precisamos olhar para essas questões como políticas. A solução é e sempre será política. Não será pela via da individualização.


O “novo normal” impõe o senso de coletividade. O “novo normal” impõe o que é comum. O “novo normal” impõe a solidariedade. O “novo normal” não é o readequar. O “novo normal” não existe. O “novo normal” é transgredir.

Karla Amaral é psicóloga e escreve para o Daki aos domingos.



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