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Adeus à Talipot da Parada Quarenta, por Erick Bernardes


"Morreu, definitivamente secou". A morte da planta 11 de dezembro, 2020/Foto: Erick Bernardes
"Morreu, definitivamente secou". A morte da planta 11 de dezembro, 2020/Foto: Erick Bernardes

Morre a Palmeira Talipot da Rua da Caminhada.


Seria um tipo bastante comercial de manchete de jornal se o caso não fosse verdadeiramente um marco na história do bairro Parada Quarenta. Pense só, Dona Jô da barraca de flores, apaixonada por plantas, há mais ou menos 25 anos decidiu plantar a Umbraculífera na esquina da rua onde ainda mora. A planta cresceu frondosa, se tornou referência paisagística na região. Verdade, exotismo e beleza se equilibram onde o gonçalense pratica seus exercícios físicos — e assim a Talipot se fez símbolo do lugar, até o último suspiro. Sim, caro leitor, a planta morreu. Frutificou e secou no rumo da lei natural das coisas. Eu vi e certifiquei, uma pena, porém, é assim.


— Oi, Dona Jô, mas disseram que a Talipot vive acima dos 40 anos. A senhora afirma ter plantado mais recentemente. Já vi lá no Aterro do Flamengo, isso sei, Burle Max trouxe do Sri Lanka para o Brasil. Morreu nova, então. Faz as contas aí. Os números não batem.


Pois é, estranho, muitíssimo esquisito. Ou a dedicada Jô se perdeu no tempo, ou se criou uma lenda naturalista por aí. Eu mesmo já ouvi falar da longevivência de papagaios e jabutis. Afirmam também: o cidadão que planta e cuida dos pés de jaca jamais come dos seus frutos gigantes, pois demoram a dar. Não sei, reconheço necessidade urgente de coletar dados científicos. Minha referência maior de vida longa sempre foi a atriz Dercy Gonçalves.


— Alô, Dona Jô, sou eu de novo. Desculpe a impertinência. Reconheço o adiantado da hora. Não teria uma foto da planta quando nova e alguma explicação da morte repentina antes dos tais 25 anos?


— Tenho sim. Mas tá plastificado o retrato. Se servir.


Bem, importante ressaltar a boa vontade da responsável por nos agraciar com a Talipot original há décadas. Uma simpatia a referida moradora, Jô das Flores, gente boa. No entanto, após meia hora de conversa, saí do bate-papo mais confuso ainda. Seria este ano de 2020 e a energia negativa da Covid os verdadeiros aceleradores do processo de envelhecimento da palmeira? Enfim, mais um enigma gonçalense. A Umbraculífera morreu.

Que venha logo 2021, quem sabe as novas sementes deem conta do porvir.


Nota do autor: Segundo informações da nossa própria personagem, o pioneirismo de trazer a planta para SG se deve ao orquidófilo Benedito Fabiano Aguiar, por sua paixão pelas plantas, há quase 50 anos. No entanto, a palmeira da Rua da Caminhada foi plantada mais recentemente pela Dona Jô, no intuito de oferecer beleza ao bairro Parada 40. A Talipot só floresce uma vez na vida e é considerada a maior inflorescência do reino vegetal. Mas morreu, definitivamente secou.


Confira a história dessa palmeira no vídeo:



Na galeria, a Talipot com poucos anos de idade (foto de Dona Jô) e a palmeira no início de 2020, florescendo (Foto: Erick Bernardes).

Erick Bernardes é escritor e professor mestre em Estudos Literários.




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