top of page

Anjo mau, por Paulinho Freitas

SÃO GONÇALO DE AFETOS


Via Pinterest
Via Pinterest

Na década de 60 os funcionários da Companhia de Navegação Loyd Brasileiro, uma poderosa estatal brasileira, eram tidos como homens bem sucedidos e alguns se julgavam até autoridades com poderes ilimitados. As famílias desses homens eram muito respeitadas e cobiçadas pelos comerciantes que não se cansavam de oferecer crédito, pois sabiam que o recebimento era certo.



Noriel era um funcionário de Alto escalão e era casado com Iná, uma polaca linda vinda ainda menina para o Brasil e mesmo assim tinha um sotaque carregado da língua natal. Com um casal de filhos e uma vida estabilizada não tinha com o que se preocupar. As crianças foram crescendo e já adolescentes começaram a construir amizades e era normal naquela época formarem grupos de estudo nas salas de aula e juntarem-se nas casas dos coleguinhas, cada semana na casa de um, para realizarem as tarefas dadas pelas professoras.



Quando Julião, amigo das crianças apareceu na casa de Noriel, para fazer um trabalho escolar, Noriel desmaiou no quarto ao ver pela janela a chegada do menino e do quarto não saiu enquanto o menino não foi embora. Na hora do jantar, Noriel, homem de difícil sorriso e muito austero, proibiu a entrada dos estudantes em sua casa, pois estariam trazendo más ideias para suas crianças, “esse tal de Julião tem cara de subversivo!”. Vociferava dando murros na mesa e olhando dentro dos olhos de cada um familiar a fim de intimidar e mostrar sua superioridade.



O velho Noriel só tinha sorrisos para a filha mais velha. Janete era sua joia rara, a única a sair com ele em dia de pagamento para fazer as comprar do mês e sempre voltava com um agrado de maior valor do que aquele que o irmão ganhava. Janete foi criada como uma princesa, não lhe faltava nada. Quando o pai ficou doente, foi dada ela uma procuração para administrar os bens da família e Janete cumpriu a missão com mãos de ferro até a morte de Noriel.



Ocorre que quando adolescente Janete foi a uma festinha de aniversário de Julião, escondida, sem que o pai soubesse. Na casa do coleguinha, na sala principal como era de costume na época, um quadro da Santa Ceia ficava bem na entrada e na parede do meio uma foto da família. Naquela casa, naquela foto, o patrono, o santo, o incorruptível, o defensor da moral e bons costumes Noriel era o personagem central. Ao descobrir que aquele era o motivo das longas viagens de Noriel, a adolescente Janete, num sentimento de revolta, dor e vingança, chantageou o próprio pai até a morte.



A mãe morreu sem saber da traição e o irmão, descobriu no velório do pai que tinha mais dois irmãos. Naquela época, dizem alguns, que "era normal" o homem ter uma concubina e que as mulheres, mesmo sabendo da traição jamais reclamavam com medo de perder o marido. Trabalhavam exaustivamente e exclusivamente para o lar e a grande maioria não tinha vida própria, diziam que quem tinha que se arrumar e ser vaidosa eram as “mulheres da rua”, pois elas já tinham marido.



Este tempo ficou lá para trás, graças a Deus! Ainda bem que lá em casa quem apitava eram minha mãe, minha avó e minha irmã. “Eu sou um homem “brabo”,” macho!” Quem manda lá em casa sou eu! Quando minha esposa me chama pelo meu nome completo atendo na hora, pois sei que ela precisa que eu faça algo para ela ou esqueci de fazer algo que ela “gentilmente” pediu. Ela não vive sem mim!!!!!!!!

Paulinho Freitas é compositor, sambista e escritor.





POLÍTICA

KOTIDIANO

CULTURA

TENDÊNCIAS
& DEBATES

telegram cor.png
bottom of page