Augusto, por Paulinho Freitas
SÃO GONÇALO DE AFETOS

Pobreza: Falta do necessário à subsistência; penúria.
Altivo: Comportamento nobre ou digno.
Dito isto discorrerei sobre Augusto.
Ele vinha caminhando desde a praça da Marisa apertando a campainha de todos os prédios, parecia aquelas crianças de antigamente como eu e você que apertavam a campainha e saía correndo. Ele não, ele apertava e saía caminhando tranquilamente como se nada tivesse feito e sorrindo sarcasticamente como se cometido um crime perfeito. Vim atrás dele todo o tempo pensando que ele não me notava, qual meu engano quando ele parou numa esquina e quando eu passei ele falou rispidamente:
_ Que que tu qué?
Fingi não entender e passei direto. Ele veio atrás de mim, passou minha frente e andou bem rápido. Na banca de jornal ele parou e ficou me encarando. Quando eu cheguei próximo dele recebi a ordem:
_ Me dá um real! Um real você tem! Pra comprar cigarro! Um real!
Peguei a moeda do bolso e fiz menção de entregar, antes porém indaguei: _ Seu nome? Como é o seu nome?
_ Pra quê quer saber?
_ Pra quando eu quiser fala com você eu te chamo pelo nome.
_ Mas eu não quero falar com você.
_ Mas eu quero te dar um real!
_ Augusto. Meu nome é Augusto.
_ Augusto de quê?
_ Augusto ué! Chama Augusto que venho!
_ Toma um real Augusto.

Ele pegou a moeda, entrou na banca de jornais e comprou um cigarro que acendeu num isqueiro que estava pendurado num barbante na quina da banca, deu uma longa tragada, sorriu de satisfação e saiu andando seu passinho curto. Ele estava descalço e usava saia e blusa. Andava naturalmente como se estivesse num traje passeio. Subiu a escadaria da igreja matriz, foi para baixo de uma árvore e se deitou de barriga para cima e pernas cruzadas e como um lord observava o céu de um inverno atípico, bonito e feliz.
Terminada a missa os fiéis saíram da igreja com copos de café com leite e com pães com manteiga para distribuir aos moradores de rua que ficam por ali. Uma senhora se aproxima de Augusto e faz a oferta:
_Toma um café com leite e pão fresquinho com manteiga meu senhor!
Augusto não se dignou a olhar para aquela senhora. Da mesma maneira que estava, sem se mexer e sem tirar os olhos do horizonte que fitava devolveu:
_ Já tomei café. Obrigado.
A senhora insistiu:
_ Mass está fresquinho! O pão está quentinho ainda!
Augusto levantou feito um raio e saiu reclamando em todas as direções:
_ Eu já fiz meu desjejum! Já tomei meu café! Não se tem sossego! Pelo amor de Deus!
A pobre senhora ficou sem ação com o copo de café e o pão nas mãos observando Augusto andando rápido lá para os lados do pronto socorro e se deitando embaixo de outra árvore.
Ela com um semblante de santa olhou para mim e retrucou:
_ Ele é maluquinho né!
E eu respondi:
E quem não é minha santa? E quem não é?
Formem suas opiniões!

Paulinho Freitas é cantor, compositor e sambista.

