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Bar do Zé, por Fábio Rodrigo


Era um simples estabelecimento comercial localizado na região industrial da cidade. Era ponto de encontro daqueles que ali paravam para pôr a conversa em dia e tomar uma cervejinha. Não havia letreiros, mas todos conheciam como bar do Zé. Era Parada obrigatória para tomar o famoso pingado com pão na chapa antes de chegar ao trabalho. A maioria do público era composta de operários que trabalhavam em uma das poucas indústrias que ainda restavam na região. Na hora do almoço, estavam lá pra comer o prato feito mais conhecido do bairro. O bar do Zé é um daqueles bares que também podem ser chamados de boteco ou mais popularmente conhecidos como birosca, por sua aparência nada atrativa. Toda e qualquer hora se vê um pinguço por lá tomando uma cachacinha e tirando sarro com alguém.

Anos mais tarde, em vista das poucas indústrias que ainda sobreviviam no local, a prefeitura decidiu realizar um grande projeto de revitalização da região. Ou de modernização. Ou de reestruturação. Ou sei lá. Um desses substantivos que qualquer governante gosta de usar. Assim, o antigo polo industrial passou a ser a principal área comercial da cidade. Modernos prédios foram construídos, mudando completamente a cara do local. Bem ao lado do bar do Zé, onde antes era um grande galpão abandonado, foi erguido um edifício de 20 andares: o Downtown Royal Business.


Empresas nacionais e multinacionais se instalaram no novo centro comercial da cidade. O comércio da região, que antes atendia majoritariamente a operários, agora precisava dar conta do grande número de executivos e funcionários administrativos que trabalham por lá. Por isso, novos empreendimentos surgiram: restaurantes, delicatessen, cafeterias famosas e redes de fast-food.


Apesar de muitas propostas tentadoras pelo estabelecimento, nenhuma delas seduziu o seu Zé. O bar do Zé resistiu bravamente e até hoje atende a seus poucos porém fiéis clientes, que fazem questão de ir até lá tomar uma cervejinha e pôr o papo em dia. Portanto, mesmo cercado por edifícios modernos, o bar do Zé sobrevive e segue firme bem no coração comercial da cidade.

Fábio Rodrigo Gomes da Costa é professor e mestre em Estudos Linguísticos.


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