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Capitão Nelson quer combater desigualdade sem apresentar propostas


Banner digital de campanha do candidato/Divulgação
Banner digital de campanha do candidato/Divulgação

A campanha eleitoral começou nas cidades brasileiras e resolvi analisar, como eleitor curioso, o plano de governo de cada candidato ao cargo de prefeito de São Gonçalo, em ordem alfabética. Nelson Ruas dos Santos (Capitão Nelson) tem 62 anos e Ensino Médio completo. Logo nas primeiras linhas do programa disponível no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a candidatura do capitão afirma que pretende pensar as intervenções em nossa cidade no quadriênio 2021-2024, mas prospectando ações para o futuro. A proposta seria boa, desde que as ações saíssem do imaginário da sua equipe e fossem especificadas.


Nelson, que nasceu em Niterói, fala no documento em priorizar o combate às desigualdades sociais, em usar o Estado como defensor da cidadania. Do ponto de vista ideológico, mesmo com uma abordagem superficial, surpreende positivamente. Lembra até planos de governo de candidatos da esquerda. O programa enxerga alguns dos principais desafios de São Gonçalo, como a deteriorização dos espaços públicos e a violência generalizada. Depois cita a estagnação nos indicadores da Educação Fundamental, ensaiando um discurso mais maduro, mas não avança, apesar do nome da coligação. Ele não mostra nenhuma informação ou estudo a respeito das profundas desigualdades sociais em São Gonçalo e, mais importante ainda, nenhuma estimativa durante um possível governo do capitão para os indicadores que critica.


A transparência é colocada como palavra-chave do governo, tendo as redes sociais como a primeira ferramenta para se comunicar com a população gonçalense. Assumindo a boa-fé do candidato, alguém precisa indicar à sua equipe o documentário O Dilema das Redes, disponível no Netflix. Redes sociais estão longe de ser uma ferramenta eficiente para comunicação política visto que o conteúdo apresentado aos usuários é filtrado e decidido por algoritmos. Um site bem organizado e simples de navegar cumpre melhor a função.

Capitão Nelson afirma que pretende pensar em modelos diferentes para a administração do patrimônio municipal. Não precisa ser tão diferente assim do que o candidato já conhece. Em 2008, quando foi eleito vereador pela primeira vez, Nelson declarou ao TSE possuir apenas um carro no valor de R$ 36 mil. Em 12 anos na política, o patrimônio dele aumentou quinze vezes, para R$ 547.524,56. Nada mau. Só em dinheiro vivo, o capitão guarda R$ 52 mil. Se ele fosse capaz de multiplicar o patrimônio público da forma como multiplicou o particular, São Gonçalo seria uma cidade rica.


O momento mais trágico do programa é quando declara a intenção de criar propostas e afirma que o documento está em construção. Ora, o plano de governo deveria ser a proposta em si, não a promessa de que algo será proposto no futuro. Para cada proposta, deveria existir explicações, previsões em números, estratégias provadas em outras cidades. Caso contrário, não é plano de governo.


Por exemplo, sobre a intenção de implantar uma Unidade Municipal de Pronto Atendimento 24 horas, para atender as regiões do 4º e 5º distritos, nenhum detalhe foi fornecido. A origem dos recursos não foi citada, nem quando a obra estaria concluída. Contudo, o hábito de criticar gestões anteriores não foi esquecido. Como se conhecer as falhas de um governo capacitasse alguém para resolvê-los.

Mário Lima Jr. é escritor.




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