top of page

Coisas da pandemia IX: Velhos tempos, novo amor. Por Paulinho Freitas

SÃO GONÇALO DE AFETOS

Placa de rua da cidade do Porto (PT)/Reprodução Internet
Placa de rua da cidade do Porto (PT)/Reprodução Internet

Na Rua das Flores, ali no Porto Velho tem um predinho amarelo, um dos primeiros prédios construídos em nossa cidade. Lá moram desde a infância a Daíza e o Laerte. Quando crianças, nas brincadeiras de esconde-esconde, os dois sempre estavam juntos e enquanto a criança que escondia o rosto contava e as outras procuravam um esconderijo os dois trocavam tantos selinhos quanto os números que eram cantados. Na adolescência, nas rodas de viola, as músicas mais românticas eram ouvidas pelos olhares que transportavam os dois a um paraíso imaginário onde só eles existiam.



Numa fria tarde de um feliz 12 de junho, a noiva mais bonita que o Porto Velho já viu, atravessava o tapete vermelho da Igreja de Nossa Senhora das Graças para encontrar um emocionado noivo no altar e juntos dizerem em alto e bom som o sim que selaria aquela parceria de amor para sempre.

O enroscar de coxas, as carícias, o som que escapulia num momento de descuido e invadia os apartamentos vizinhos, fazendo ruborizar as carolas de plantão, durou o tempo exato em que os cabelos brancos consumiam os cabelos negros dela e o correr da vida arrancava silenciosamente e sem que ele percebesse quase todos os fios de sua vasta cabeleira.



Nestes tempos de pandemia a última janela guarda como num quadro aquele casal de mãos entrelaçadas e olhares apaixonados, que ainda conseguem por uma fresta ver uma parte do sol se pondo atrás da ilha do Pontal nestas tardes de outono-inverno. Um beijo, um abraço apertado e sem pressa anunciam que é hora de fechar a janela e deitar coladinhos um no outro para mais uma noite de sonhos e juras de amor eterno.


Hummmm... Ai, ai,...!!!!!

Paulinho Freitas é compositor, sambista e escritor.






POLÍTICA

KOTIDIANO

CULTURA

TENDÊNCIAS
& DEBATES

telegram cor.png
bottom of page