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Educação pública de qualidade e a saúde mental das profissionais da Educação, por Karla Amaral

Não se pode querer uma coisa (Educação pública de qualidade) sem garantir a outra (saúde mental das profissionais da Educação)

Reprodução Internet
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Existe uma pergunta que me atravessa ao longo desses últimos anos de trabalho na educação que é: “Como pensar numa educação de qualidade sem pensar na saúde mental das e dos profissionais da educação?” Outro questionamento que faço frequentemente e acredito que toda a sociedade deveria fazer é: “Como foi a mudança da rotina de trabalho das professoras e dos professores neste período de pandemia?”



Em abril deste ano o deputado federal Ricardo Barros líder do governo na Câmara defendendo a reabertura das escolas em período de pandemia afirmou: "É absurdo a forma como estamos permitindo que os professores causem tantos danos às nossas crianças na continuidade da sua formação. O professor não quer se modernizar, não quer se atualizar. Já passou no concurso, está esperando se aposentar, não quer aprender mais nada" (UOL Educação). Vocês, assim como eu, conseguem perceber como esse discurso é perverso e coloca a sociedade contra os profissionais que fazem a educação acontecer? Discursos como esse precisam ser combatidos.



Na educação a mudança do presencial para o remoto aconteceu de forma abrupta. Muitos professores e professoras não estavam e ainda não estão preparados para incluir as novas tecnologias na rotina de trabalho, porque a formação destes profissionais pode não contemplar o uso de tecnologia. O ensino remoto trouxe inúmeros desafios e adoecimento mental. As/os professoras/es tiveram que aprender a usar ferramentas tecnológicas ao mesmo tempo que precisam minimizar qualquer impacto de perda de aprendizagem dos alunos.



Existe um ponto muito importante para gente pensar no aspecto da qualidade da educação e saúde mental das/os professoras/es que é o quanto o investimento na educação influencia a saúde mental de toda categoria. Educação é uma política pública e precisa de investimento. A professora e o professor não conseguem carregar a educação nas costas. Saúde mental é afetada pela falta de valorização da profissional da educação, dos baixos salários, da necessidade de acumular matriculas para minimizar esses baixos salários entre outros aspectos.



O que mais ouvimos nesse período de pandemia foi o discurso de “Reinvenção Docente” ou que “Os professores precisam se reinventar”. Esse discurso é extremamente danoso para a saúde mental desses profissionais que são obrigados atender a uma nova performance tecnológica e que por diversos motivos pode não ser atendida e causa mais sofrimento. Precisamos indagar sobre as condições de teletrabalho que o município ou o estado ofereceu para esses trabalhadores. E que “reinvenção” unilateral é essa? Só os professores precisaram se reinventar? Que suporte estatal efetivo a educação pública recebeu neste período de pandemia?

Não podemos aceitar uma sociedade que pense, chancele ou aceite discurso como daquele parlamentar, gestores ou representantes políticos que vejam a classe docente como inimiga da educação.


Professora e professor, você não pode ter medo, vergonha ou receio de dizer que o trabalho docente está lhe causando sofrimento. Porque esse sofrimento não deve revelar uma suposta fragilidade individual e sim deve revelar a falta de estrutura de trabalho e pouca valorização do fazer profissional de vocês.

Karla Amaral é psicóloga e escreve para o Daki aos domingos.







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