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Encontros e reencontros... Felizes! Por Paulinho Freitas

SÃO GONÇALO DE AFETOS

A padaria e as memórias do autor/Foto: Paulinho Freitas
A padaria e as memórias do autor/Foto: Paulinho Freitas

A rua Dr. Gradim começa no bairro da Madama e termina na Praça do Gradim. Na minha infância/adolescência, ali no primeiro prédio onde hoje existe uma padaria era a torrefação do Café Icaraí, ao lado tinha a Alfaiataria do Aná e ao lado uma delegacia. Caramba! Era uma delegacia de novela de época, não tinha policiais, tinha “guardas!” Bem pertinho era a estação de trem e entre uma e outra tinha um largo onde o Bloco Carnavalesco Terríveis da Madama ensaiava. Lembro-me do Dito, um sarará forte pra caramba de braços cruzados e cara de poucos amigos circulando entre os foliões atento a qualquer coisa que acontecesse que fugisse às normas da moral e bons costumes da época. Tempo bom...


Todas as vezes que preciso sair de São Gonçalo, ir ou voltar da cidade vizinha Niterói eu passo por ali e meu coração se enche de lembranças e fica muito feliz. Lembro-me dos amigos de infância... Tanta gente boa, meu Deus!


Ontem precisei parar nesta padaria para usar o caixa eletrônico, estava concentrado tentando lembrar a senha do cartão, eu sempre esqueço. Do lado de fora uma confusão se formou, uma gritaria danada, um pai entrara em luta corporal com o filho, os dois muito fortes se digladiando, eu não consegui me concentrar. Fui até a porta e deu até medo. Os dois pareciam lutadores profissionais de MMA, golpes fortíssimos e rápidos desferidos e esguios corpos se esquivando dos golpes sem que um conseguisse acertar o outro, uma multidão olhando e sem coragem de apartar, até carro de polícia tinha, mas quem se mete naquela luta de titãs?


Do nada me aparece um senhor de vasta cabeleira crespa e branca, vindo em minha direção com uma cara amarrada, parecia que ia me agredir, eu não tinha pra onde correr, estava entre o balcão e a porta. Quando ele já estava bem perto e eu prestes a fechar os olhos para esperar a pancada, o cara abriu o maior sorrisão: _ Paulinho meu camarada!!!!! Você anda por aqui ainda irmão? A última vez que te vi foi na televisão, num desfile do Porto da Pedra. Pensei que você tinha virado artista!


Era o Dito.


_Ô meu parceiro! Que artista que nada! Estou na correria pela vida ainda, parei pra pegar um dinheirinho aqui no caixa eletrônico daí começou essa confusão e eu vim ver o que era.


_ Meu filho e meu neto. Disse ele. Já acabo com isso já, já.


E se virou para a briga dando a ordem:


_ Para com isso agora! Já! Vamos!!! Os dois aqui! Agora! Antes que eu pegue de pau!


Imediatamente cessaram a luta e vieram para perto de nós. Dito nos apresentou:


_Esse é o Pinha, meu filho e este é o Bené, meu neto. Os dois vivem se pegando por ciúme do meu bisneto. Meu filho quer que o neto fique com ele e meu neto que é pai e por direito quer o filho só pra si. Enquanto eles brigam o bisneto fica comigo. KKKKKKKKKKKKKKK


A gargalhada de Dito ecoou pelo quarteirão inteiro e até o pessoal da polícia começou a rir. Dito pediu um refrigerante sem açúcar por causa de sua diabetes e uma cerveja para os demais e ficamos ali gargalhando das histórias do passado. Estava uma maravilha até vir uma senhora com cara de poucos amigos junto a outra mais nova que trazia um menino nos braços e dar a ordem:


_ Os três pra casa agora! Brigam por causa da criança, deixam ela com a gente e vem pro bar encher a cara! Vamos, vamos, vamos, vamos! Vocês sabem que o valente lá em casa sou eu e não quero bagunça não! Vai cada um cuidar do seu serviço e só janta depois de tudo pronto. Estamos conversados?


Meu amigo Dito me deu outro abraço, com uma gargalhada baixinha e de olhos no chão se despediu, o filho e o neto deram um sorriso sem graça e foram subindo o morro da Madama, os três discutindo quem iria fazer o quê no trabalho doméstico a ser realizado. Que felicidade rever meu amigo e vê-lo tão bem! Não consegui tirar o dinheiro do caixa eletrônico, esqueci a senha. Entrei no carro e tomei o caminho de casa. Foi uma tarde muito feliz. Antes que me chamem atenção, bebi refrigerante sem açúcar. Não por ter algum problema com o açúcar, é que álcool e direção não combinam.

Paulinho Freitas é compositor, escritor e sambista. Autor do livro "Coisas do Tigre: bastidores de uma eliminatória".






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