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Essa tal felicidade - por Paulinho Freitas

SÃO GONÇALO DE AFETOS


Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Onde anda a tal felicidade? A gente vive em busca dessa menina que aparece e desaparece como num passe de mágica.


Todos os dias vamos à luta, trabalhamos incansavelmente para que possamos ter uma boa casa, um bom carro, uma família nos padrões por nós criados, a nossa imagem e por nós alimentada, orientada, educada e deixada, depois de nossa partida para o além como exemplo para a humanidade.


Ocorre que, na maioria das vezes o tiro sai pela culatra, descobrimos que nosso parceiro (parceira) também pensa, também tem seus sonhos e passamos a vida nos digladiando para saber o jeito de quem a família terá e também somos surpreendidos com filhos pensantes e querendo exclusividade no traçar de seus destinos. Assim vai mais um dia, mais uma semana, mais um ano, mais uma vida...




Não percebemos que essa tal felicidade, essa menina levada que vive se escondendo, esteve o tempo todo ali pertinho da gente, naquele beijo quente e amassos de início de namoro, no nascimento das crianças e em cada sorriso e olhinhos brilhando quando lhes damos carinho.


Ela esteve naquele feriado na praia, naquela excursão regada a churrasco e pagode, naquela reunião de família de natal com todos abraçados e chorando de emoção. Ela esteve na formatura das crianças, no almoço de domingo, naquela tarde chuvosa em que a família toda deitou no chão da sala para ver um filme e derramou pipoca por todos os lugares numa animada guerrinha.


Essa menina estará presente quando deitarmos a cabeça no travesseiro sentindo que será nossa entrada na fila da “última noite na terra,” a gente sente, a gente sabe que aquela será a última e ao olharmos para trás veremos como fomos felizes. Estive com essa menina no Centro Cultural Joaquim Lavoura.



Independente de quem fez acontecer, de quem pagou, de quem recebeu, quem fez de graça, quem nada fez e só ficou reclamando sem nada produzir, independente da política, eu vi a Orquestra Sinfônica de São Gonçalo abrir essa falada por bem e por mal Viração Cultural, no primeiro acorde tocado chorei de cara, que coisa linda ver minha cidade fazendo uma onda cultural e ver tantos conterrâneos de grande competência mostrando sua arte. Vários amigos iriam se apresentar durante 24 horas.


Vi novos atores em cena, lacrimejando de emoção a cada apresentação, vi o Samba, o rock, a MPB, a poesia, a emocionante e inesquecível Folia de Reis. Não sei como isso acabou, pois não consigo mais ficar 24 horas no ar, mas começou muito bem, simples, com uma plateia feliz e ávida por conhecimento e cultura.




Que eu não deixe essa menina que aparece nas pequenas coisas e grandes gestos sair de minhas vistas. Obrigado por este pequeno grande momento. Que venham mais artistas, mais apresentações emocionantes como esta. Que a semente dê frutos e no próximo ano o projeto esteja no calendário, que o artista fique emocionado e feliz com sua apresentação e com o corpo alimentado pelo fruto de seu trabalho finalmente reconhecido.


Acho que depois dessas 24 horas e uns acertos aqui ou acolá no projeto, ano que vem teremos uma classe artística, se Deus quiser, unida e feliz, este trabalho não foi em vão e vai dar resultado.


Na minha vez de entrar naquela fila da qual nos fala em poesia o grande Augusto Dias, que espero o anoitecer esteja bem longe, vou me lembrar desse momento também.


“... No cantar de um passarinho, num abraço selando a paz... É na simplicidade que a felicidade se faz!"



Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.




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