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Gonçalense, levante a cabeça, por Mário Lima Jr.


Foto: Fabiano Barreto, Piscinão de São Gonçalo
Foto: Fabiano Barreto, Piscinão de São Gonçalo

Perder a eleição faz parte do jogo democrático. A tristeza se torna mais profunda e pesa sobre os ombros, como aconteceu em São Gonçalo ao longo da semana, quando se perde para um candidato que na cintura carrega uma arma ao invés do seu plano de governo ou de um bom livro que lhe traga inspiração política. Apesar do tamanho do desgosto, superar a derrota e continuar a luta em defesa de uma cidade digna é o único caminho.


Teve carreata de comemoração, gritos e tiros para o alto, claro, quando o resultado do segundo turno das eleições municipais foi anunciado. Ao mesmo tempo surgiram nas ruas e nas redes manifestações opostas, contidas, expressões de vergonha e decepção. Afinal, a vitória do policial reformado Nelson Ruas foi apertada: 5.908 votos de vantagem sobre o segundo colocado, o médico Dimas Gadelha. A frustração dos eleitores que não conseguiram transformar Dimas em prefeito se uniu à mágoa das pessoas que anularam o voto, votaram em branco ou não foram à seção eleitoral porque não criaram a menor esperança nos concorrentes à Prefeitura. Muitos vivem sob uma realidade pobre e violenta onde a importância de votar foi esquecida há tempos. Somados, abstenções, brancos, nulos e eleitores de Dimas representam mais de 71% do eleitorado. Infelicidade demais até para São Gonçalo, que não acumula boas experiências políticas e sociais.


Na experiência mais recente, antes de ser carregado para comemorar a vitória, como prenúncio de um legado violento o prefeito eleito passou o revólver para o apoiador mais próximo, alguém com intimidade extrema com o objeto. Se a arma caísse durante a comemoração e disparasse contra um dos cabos eleitorais, o prefeito seria responsável por ferir ou matar um ser humano antes mesmo do governo começar. Risco que não combina com a democracia.


De acordo com a assessoria do candidato vencedor, a arma estava no lugar certo, pois ele tem autorização legal para carregá-la. Do ponto de vista governamental, perigoso será permitir que um ex-policial, sem especialização nem experiência em gestão pública, chefie o Poder Executivo de uma cidade com mais de um milhão de habitantes. Uma população livre possui necessidades bastante diferentes de um batalhão de policiais militares subordinados à hierarquia e à disciplina.


Quando o governante não corresponde às qualidades exigidas pela função, técnicas ou humanas, resta como alternativa a mobilização popular, sabendo onde se quer chegar. São Gonçalo provou ser capaz de se reunir em torno de propostas progressistas nessa eleição. Além disso, o município continuará vivo e produzindo através dos seus músicos, pintores, escritores e artistas em geral pelos próximos quatro anos. O vendedor ambulante não deixará de acordar cedo todos os dias para garantir o sustento da família. As crianças ainda dependerão dos adultos para contar com um futuro melhor. Cada gonçalense é, portanto, um motivo para o município inteiro levantar a cabeça.

Mário Lima Jr. é escritor.



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