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Indefinidos, por Fábio Rodrigo


Amarelo, vermelho e azul, 1925, Wassily Kandinsky. Musée National d'Art Moderne, Centro Georges Pompidou, Paris.
Amarelo, vermelho e azul, 1925, Wassily Kandinsky. Musée National d'Art Moderne, Centro Georges Pompidou, Paris.

Numa certa vez, ninguém acreditava em mais nada. Resolveram escolher qualquer um que fizesse seja lá o que for pra mudar alguma coisa. Num certo dia, foi eleito então um alguém qualquer. Muitos acreditaram em tudo o que saía em qualquer lugar, e aí deu no que deu. Mas alguns logo viram que ele não era nada daquilo.


Certo dia, surgiu uma coisa estranha que deixou bastante gente com medo. Ele disse que não era nada, como se ele soubesse de alguma coisa. Não se importava com o que os outros falavam, mesmo que os outros soubessem muito de algo. Virou então uma guerra entre os poucos que sabem muito contra os muitos que não sabem nada.


Todo dia era tudo igual: fazia tudo errado e dizia que a culpa era dos outros. Como pode alguém acreditar em alguém assim? Bastante gente passou a culpá-lo por tudo. Aos poucos, quase ninguém acreditava mais nele. Somente alguns ainda diziam que ele fazia alguma coisa. Esses poucos diziam que os outros (quase todo mundo) não podiam dizer coisa alguma. Esses poucos, que se achavam muitos ou quase todos, achavam que sabiam de tudo. Era assim: quem falasse alguma coisa contra ele, seja o que for, não sabia nada.


Aí virou um salve-se quem puder. Aquele alguém que, segundo muitos, veio pra mudar tudo passou a atacar tudo e todos. Ou todos se uniam para tirar esse alguém, ou não sobraria nada nem ninguém. Era preciso fazer alguma coisa. Era tudo ou nada.


Muitos anos depois, ninguém se lembra mais dele. E não há nada de bom pra lembrar. Quem dizia que ele era tudo, hoje não diz nada. Depois de tudo isso, ficou a lição: não acredite em qualquer coisa que sai em qualquer lugar sobre alguém qualquer que diga que sabe tudo sobre qualquer coisa.

Fábio Rodrigo Gomes da Costa é professor e mestre em Estudos Linguísticos.




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