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Isolamento voluntário e reflexão compulsória, por Flávia Abreu


Em tempos de coronavírus, precisamos ficar em casa, na medida do possível, para evitar a contaminação, segundo as autoridades civis. Aqui no Rio de Janeiro, o governador Wilson Witzel publicou um decreto suspendendo as aulas na rede pública de ensino e nas universidades, e cancelou shows, teatro e cinema, manifestações públicas e quaisquer atividades que pressuponham aglomeração. Museus foram fechados e eventos esportivos acontecem sem a presença do público.

Há quem teime em sair de casa, contrariando as recomendações das autoridades médicas. Um domingo de praias lotadas surpreendeu todos, uma vez que, diuturnamente, a imprensa, que tem colaborado no combate à pandemia, informa a população sobre os perigos de infecção em meio a multidões. Os shoppings tiveram suas lojas fechadas e seu horário reduzido, com a permissão de funcionamento apenas para restaurantes. Tudo para evitar o caos.


Muitas pessoas reclamam de ter de ficar em casa. Embora o isolamento seja voluntário, atendendo a uma recomendação do Governo, a consciência deveria falar mais alto. Em prol da saúde coletiva, não podemos nos arriscar, muito menos, arriscar as vidas das pessoas mais vulneráveis, crianças, idosos e pessoas com baixa imunidade. Então, qual seria o motivo da reclamação?


Ficar em casa traz a ideia de isolamento social e, de fato, algumas pessoas não conseguem se isolar. Entendendo a casa como o espaço do silêncio e a rua, do barulho, há quem não suporte a ideia de introspecção, pois no recolhimento é que se dá um dos mais desafiantes encontros que o ser humano pode ter: com ele mesmo. É no momento de introversão que nos olhamos “no espelho”, que nos encaramos. Sozinhos, enfim, estamos conosco. Somos a nossa companhia. Aqui estamos, as nossas virtudes, os nossos medos, as nossas imperfeições, aguardando uma conversa adulta e sincera, e uma possível meditação.


Aprendemos, desde cedo, que a solidão é ruim, entretanto, ela é, sem sombra de dúvida, um degrau para o autoconhecimento. Somos seres sociáveis sim, mas isso não é motivo para temermos a solidão. Este é um momento para uma reflexão sobre as nossas práticas sociais. Somos empatas? Somos educados? Somos gentis? Somos egoístas? Oferecemos o melhor de nós mesmos no nosso trabalho? E nos nossos relacionamentos? Durante esse isolamento proposto pelas autoridades, para o sucesso no enfrentamento do Covid-19, façamos uma investigação minuciosa dos nossos objetivos. Para que eles nos servem? Servem também para outras pessoas?


Por mais doloroso que seja examinar a própria vida, é também extremamente edificante e libertador. Somente assim evoluímos. Façamos do isolamento voluntário uma oportunidade de crescimento pessoal.


Flávia Abreu é professora e blogueira.


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