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Jerônimo Costa: um vencedor e conhecedor do Mundo do Samba, por Oswaldo Mendes


Jerônimo Costa/Foto: Acervo Oswaldo Mendes
Jerônimo Costa/Foto: Acervo Oswaldo Mendes

Se o Silas de Oliveira tivesse aqui ele iria pular a maior fogueira para ganhar um samba enredo”, assim iniciamos a conversa com Jerônimo Costa.


Cria da Vila Izabel e Engenho Novo no subúrbio do Rio de Janeiro, sempre gostou da música, mas não teve parentes e amigos que o influenciaram nessa opção, mas a cultura local e a diversidade popular fizeram de Jerônimo Luiz da Costa, mais conhecido como Jerônimo Jejê, com muitas histórias para contar e sapiência para que seja fonte de reflexão.


Foi intérprete e compositor do Grupo Resistência, grupo que havia em sua comunidade; começaram a fazer trabalhos locais, principalmente focados em pagode; com a aceitação popular crescente foram expandindo as atividades que perduraram até idos de 1996.


Antes de participar do Grupo Resistência, o Jejê era frequentador assíduo de agremiações carnavalescas: Salgueiro, Portela, Império Serrano, Mangueira e outras.


Esse grupo tinha a formação básica com Cesar, o saudoso Vermelho, Claudio, Silvio, Robinho e Jorginho do Violão. Tocaram na Banda Portugal, com Preto Joia, Jovelina, e diversas escolas na Vila Rica, no Buraco Quente, na Vila Isabel. Era muito requisitado e um dia o grupo teve a oportunidade de participar de um festival na Alemanha, em Berlim.


Era o início do fim. Com a desistência de diversos integrantes do grupo para a viagem, por problemas pessoais, ficou inviabilizada a ida ao exterior; assim, Jejê concluiu ali que ele tinha que procurar outro rumo, pois a música era sua primeira opção.


Com o final do Grupo Resistência, veio o convite de dois amigos do GRES Mangueira para que participassem da escolha de samba enredo, isto em 1998. Como nunca tinha concorrido a essa modalidade, ficou receoso. Nomes como Jurandir, Rod, Comprido, Nelson Sargento e venceram a escolha de samba enredo do GRES Mangueira do carnaval de 1999, juntamente com Adalberto e Jocelino.


Jerônimo abandonou o pagode e foi para o samba.


Nesse ponto da entrevista, Jerônimo nos fez a primeira pergunta: Quantas vezes você já ouviu um cantor citar quem compôs a música que ora trabalha? O Compositor é desprezado. Falam o nome de todos e esquecem dos Compositores. Quantas vezes já ouviu bradar a Ala dos Compositores em agremiações? Chamam todas. Visitas, autoridades, esposas de autoridades, amigos, mas a dos Compositores sempre esquecem.


Em 2001, até 2005, Jerônimo foi alçado vice-presidente da Ala dos Compositores da Mangueira. De 2005 a 2009 foi presidente da ala. Afastou-se da Mangueira na época do então presidente Ivo Meirelles. Voltou na gestão de Chiquinho da mangueira e atualmente é o presidente da Ala dos Compositores do GRES Estação Primeira de Mangueira.


Suas obras, em concursos de sambas enredos, chegaram a quatro finais, sendo elas em 1999, 2003, 2005 e 2009. No samba, o importante é competir. Perde-se o concurso, mas ganha-se amigos, experiência e, cada vez mais, amor a agremiação. O seu samba nunca está acima dos interesses de uma comunidade, de uma agremiação.


A Mangueira considera membro efetivo da Ala dos Compositores àqueles que já foram vencedores de no mínimo um concurso de samba enredo, assim, o Jerônimo é membro efetivo.


“Hoje canto com facilidade sambas de 1960. Difícil é cantar, se ligar nos sambas atuais. Caiu a qualidade. Com mesma melodia e formatação parece receita de bolo. Com isso desabou a venda de cd’s ou até mesmo o interesse por esses sambas. Acabou o carnaval e descarta-se. Nem as rádios tocam mais. Nem se fala em dar um cd de samba enredo no Natal”, afirma Jerônimo.


“Com a mesma melodia e a letra alterada vai por anos ganhando em agremiações, confundindo a todos e afastando gente bamba. O Silas(de Oliveira) teria no mínimo muita dificuldade em ganhar um samba na atualidade no formato que se encontra as disputas de samba enredo. Tem que ser feito algo com urgência.”, afirma Jejê.


O baba oba o baba. É a mãe do ouro que vem nos salvar. Isso é diferente. Acabou. O visual virou quesito mesmo. Os dirigentes não deixam sambas bons irem à frente. Se escrever um samba daquilo que se encontra numa sinopse não vale mais nada. Você pode ter uma obra prima, mas só irá continuar no concurso que tiver mais gente na quadra, independente da qualidade do samba. O que conta é o número de pessoas que se coloca nas quadras nas escolhas de samba enredo. Não querem nem saber o que está escrito no seu prospecto. Se encher a quadra de gente, já está vencendo, e seu samba prosseguirá na disputa. Caso contrário será sumariamente cortado.” explica o Jerônimo.


Em outro ponto da entrevista o Jejê nos declara que, se ele for cantar o seu samba concorrente, como acontecia no passado, será sumariamente cortado, independente da obra. O palco tem que ter cantores conhecidos, famosos. É show. O visual virou quesito e pronto. Explica Jeronimo.


Na cabeça dos dirigentes de hoje, que entendem pouco de samba e querem julgar samba, o samba tem três fases: Estúdio, quadra e avenida. O samba, de boa qualidade, chega na quadra e é “jogado no ralo” – descartado sem a devida análise crítica, sem sequer ouvir direito. Sem penetrar no samba direitinho. É triste, mas é a pura e incrível verdade, afirma o Jerônimo.


“Flavinho Machado é meu ídolo”, declara Jejê, num momento de grande emoção na entrevista. Relata ainda a tristeza de ver nomes de altíssima expressão no samba sendo descartados em função dos “Escritórios” e a contratação de “torcidas pagas”, as quais enchem as escolas de samba e mantem os sambas nas escolhas.


“Poeta é aquele que dá vida ao papel”, cita Jerônimo. Os poetas não têm mais vez. Há compositores que deixam todo o prêmio para a agremiação. Quem faz Samba(com S maiúsculo) hoje não tem chance de ganhar. Se fizer oba-oba, vence. Atualmente se faz pula-pula, não mais samba enredo de qualidade. Compositores de mais pura qualidade, já não ganham há uma década.


As escolas querem vir com cinco mil pessoas, assim tem que colocar o “samba pra frente”. Samba de bloco. Em 1999 vendeu-se quinhentas mil cópias. Hoje em dia, ninguém quer mais saber de samba enredo. Atualmente se faz baboseira que não tem tamanho, pula-pula, tudo com a mesma melodia, explica assim a atual correria que acontece nos desfiles das escolas de samba, na avenida, esclarece o Jerônimo.


Outro detalhe são as informações privilegiadas que o carnavalesco dá a um grupo e não repassa aos demais concorrentes, ficando, assim, na apresentação, somente um diferenciado dentro do que é procurado pela agremiação, com grande vantagem competitiva, esvaziando a competição, declara Jerônimo.


“Os grandes mestres não têm mais vez. Todos sabem quem são os grandes nomes que compõem sambas de extrema qualidade. Sambas que são puras poesias. Obras primas. Onde estão eles? Desvalorizados num canto das quadras até tudo desaparecer. Não farei mais samba para concorrer. O pessoal que sabe fazer sambas está abandonando. É triste. Algo deve ser feito de forma imediata”, desabafa Jerônimo.


O Passista é essencial para a escola, assim como todos os segmentos. Se souber sambar nunca atrapalha. A exibição é quando a escola para. Ao se movimentar os passistas se movimentam.


O futuro do samba está se desenhando. A avenida é só para o turista. O futuro do samba está nos blocos que estão aumentando muito. Você vai se sentir muito mais à vontade. O dinheiro é a perdição do Mundo. Na correria pelo dinheiro, esqueceram do samba. Vai começar do zero. Voltar a raiz do carnaval, afirma Jejê.


Jerônimo considera que o Concurso de Samba de Terreiro que o GRES Estação Primeira de Mangueira fez no ano passado foi uma bela iniciativa, pois, pelo menos, o compositor teve voz. Subiu ao palco, de onde nunca deveria ser tirado. Tomara que essa iniciativa se desdobre em outras agremiações.


Esse é o Jeronimo Costa. Um líder do samba. Um poeta!


Oswaldo Mendes é engenheiro.





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