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Lambreta: Um jovem menino no Mundo do Samba, por Oswaldo Mendes


 Jorge Souza, o Lambreta/Foto: Acervo pessoal
Jorge Souza, o Lambreta/Foto: Acervo pessoal

Quem pega um taxi no Centro de Niterói muitas vezes não sabe que se encontra junto de um dos maiores atores culturais. Nome que carrega ser Compositor, Intérprete, Repentista ou Versador, Ritmista, Compositor e integrante da Velha Guarda da Viradouro- em todos os casos, com muito sucesso.


Número baixo – há de se respeitar. Jorge Souza, nascido em Niterói, no Buraco do Boi, de pais advindos de Cantagalo e Cachoeiras de Macacu. O pai de Lambreta era Calangueiro. “Nasci escutando Calango.”


Aos dois anos de idade se muda para São Gonçalo – Morro da Madama – onde, já sob a influência do pai, começa a dar seus primeiros passos na música. Aos oito anos fazia seus próprios instrumentos de percussão – tambor e tamborim, com couro advindo do Curtume Carioca. E nos carnavais do Paraíso – São Gonçalo – que à época eram baterias cercadas por cordas, isto em 1950, quando ele já, com seu tamborim em mãos, inicialmente puxava as cordas dos blocos para depois adentrar e participar das baterias. Os famosos “Zé Pereira”.

Havia nos carnavais dessa época, dentre outras, as Escolas de Samba Unidos de Maricá – em alusão à Estrada de Ferro, que por São Gonçalo passava e a Unidos do Porto Velho, este na Rua Alexandrina.


Em torno de 1955 conheceu Filoca – compositor dos Corações Unidos.


Aos quinze anos começa a trabalhar de carteira assinada, como Trocador da Viação Cabussu - o que lhe dava mais independência financeira, e ali veio a conhecer, também da mesma profissão, o “Moises Mortandela” – Passista e Cidadão Samba.


Estudou no Colégio Santos Dias, onde conheceu o Luis, filho do então presidente do GRES Acadêmicos da Carioca, isto por volta de 1962. Certo dia, interpelado pelo então presidente da Agremiação se o mesmo tinha habilidade com algum instrumento, foi testado e logo aprovado para a Ala de Tamborim da Acadêmicos da Carioca, sendo então incluído na seleta melhor bateria da época, a qual virou Ala Show.


Um dos integrantes desta Ala Show levou uns quatro integrantes da Acadêmicos da Carioca para fazer teste na GRES Mangueira, tendo o Lambreta feito a prova com o Mestre Valdomiro e como tinha esquecido a baqueta o fez com pau de churrasco, sendo aprovado, recebendo assim a carteira de número 51 onde integrou por duas décadas a famosa “Surdo Um”. Mais uma vez: Respeite número baixo.


Aos dezoito anos fez um samba e naquela época para cantar no Terreiro tinha que ter aprovação por alguém por tal designado e quem fazia esses testes era o competentíssimo Moacyr MM.


Depois de muito tempo expor sua vontade ao Moacyr que pediu para que ele cantasse e assim o fez e, embora muito nervoso, assim mesmo foi aprovado. A partir daí ou disputavam Sambas de Terreiro, de Quadra ou eram inclusive parceiros no GRES Acadêmico da Carioca. Nascia aí o Intérprete e Compositor Lambreta, onde também alçou cargos de direção, dentre eles como Diretor Social.


O Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos da Carioca tinha como cores o preto, rosa e azul e como padrinho a GRES Viradouro que, à época, era na Garganta, assim era comum a visita de integrantes de uma escola à outra onde Lambreta passou a conhecer Albano, Ito Machado, Nelson Jangada e outros.


Foi também passista e, assim como Batatinha da Carioca e Jorginho do Império, eram um dos poucos passistas a utilizar a passagem denominada “lambreta” a qual, atualmente, não se encontra mais nas quadras de samba. Daí veio o apelido Lambreta.


Foi fundador do Império Gonçalense. Primeiro Campeão do carnaval de São Gonçalo, isso em 1972, desfilando com o enredo Exaltação a Marinha de Guerra, com seu samba e de Aristides, onde teve problemas com a censura, tendo que sair corrido da avenida com sua família.


Atualmente se entregam aos Jurados do desfile das Escolas de Samba um documento dizendo o que cada ala representa, assim a correlação da música, enredo e fantasias, porém, naquela época isso era realizado de forma oral, e nosso Jorge Souza também foi escolhido para tal tarefa – Apresentador de Carnaval.


Desfilou no Boêmios da Madama, com Neizinho, no Mauá e diversos.


Na Mangueira o então Presidente da Ala dos Compositores o convidou para ser crooner da Escola, mas sua vontade mesmo era ser compositor daquela agremiação, porém, com quadro já fechado e indicações não alcançou. Foi convidado para integrar diversas agremiações em todo Estado e em algumas participou.


Em 1980 vai para a Ala de Compositores da Viradouro e de onde não mais sai.

Com mais de uma dezena de sambas campeões e inúmeros sambas de terreiros, sendo alguns na Carioca, na Viradouro, em Quissamã, em Angra dos Reis e diversos blocos carnavalescos.


Constante nas páginas do livro do Sérgio Cabral – pai, em uma foto do carnaval do Rio.


Homenageado por diversas autoridades pela sua atuação na cultura e no samba considera que muitas mudanças no carnaval foram positivas, inclusive o tempo de desfile, o qual era de até três horas. Sua tristeza atualmente é ver o carnaval sendo atacado pelos “Escritórios do Samba”.


Esses escritórios, por seu poder financeiro, excluem os compositores pobres e que não se enquadram nesta modalidade. Isso vem acontecendo há dez anos. Empresários se unem com artistas midiáticos e com profissionais de internet que usam estratégias diversas, contratam torcidas pagas e apresentam sambas para diversas agremiações do Grupo Especial, colocando para defender até mesmo “laranjas”, dando a falsa impressão de concorrência e assim monopolizando o carnaval e dividindo o lucro financeiro no final. Como resultado dessa atividade é que diversas escolas de samba já encontram dificuldades de compositores em seu quadro. Depois que os integrantes do escritório do samba alcançam seus objetivos, puramente financeiros, desaparecem retornando no ano seguinte com mais força financeira.

Há três anos como Guardião da Bandeira - na Velha Guarda da GRES Viradouro – e a história vencedora a qual merece aplausos para esse marido, pai, avô e bisavô.

Alô Maloca. Alô Maloca. Alô Dirce. Parabéns Baluarte Lambreta!

Oswaldo Mendes é engenheiro.




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