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Lena Alves: A nossa Rainha! Por Oswaldo Mendes


Lena Alves/Foto: Acervo pessoal
Lena Alves/Foto: Acervo pessoal

Com o DNA de seu tio, Mestre Fuleiro, fundador do Império Serrano, e mais um currículo com quarenta e oito anos, consecutivos, como Intérprete de Samba em Niterói, se apresenta Maria Helena Pereira da Silva – Lena Alves.


Nascida em Niterói, bairro Palmeiras, com um ano de idade sua família se muda para o bairro Caramujo, onde mora há sessenta e três anos. No próximo dia 16 de janeiro, completará mais uma primavera.


Foi o saudoso Ivo, Diretor de Harmonia do GRES Salgueiro e do GRES Combinados do Amor, à época, quem a batizou com o nome artístico.


Em cima do Figueira Futebol Clube era a sede do Combinado do Amor; aos oito anos de idade, seu pai já a levava e pedia para que Lena cantasse o samba do GRES Império Serrano e, assim, ela cantava e já encantava:


"Iara me levou para o clarão do luar

Na lagoa dourada, que beleza sem par

As flores conversavam

Tudo era encantado naquele lugar

Foi assim que encontrei

O Reino encantado que procurei”


E aos quatorze anos foi alçada ao carro de som do GRES Combinado do Amor; depois, como intérprete oficial, permaneceu até hoje, por mérito.


Família grande, todos foram criados dentro do samba, mas, posteriormente, optaram por seguir ou não; seja por trabalho, distância, religião ou outros motivos. Irdes, Paulo Cesar (in memorian), Mário, Paulo Roberto, Maria Lúcia, José Carlos, Pedro Paulo, Maria José e Maria de Lourdes – todos Pereira da Silva e Sambistas.



Mario Sérgio foi Diretor de Harmonia do Cubango e Império Serrano; Maria Lúcia Hofmman (sua irmã) e seu cunhado Henrique Hofmman foram campeões no Império Serrano.


Com voz afinada, desde criança, era alvo de elogios pela linda e rebuscada voz, a qual permanece até nossos dias.


Num local, quase que exclusivamente masculino, onde pode-se contar nos dedos quantas mulheres, no país, foram intérpretes oficiais em escolas de samba, Lena sempre carregou esse triunfo. Nomes como Elza Soares, Leci Brandão, Eliana de Lima e Suely Soares, a qual cantou na Souza Soares, são pouquíssimos os casos de intérpretes femininas. Há alguns nomes como apoio do carro de som, mas intérpretes oficiais, é muito raro mesmo. Atualmente desponta nesse universo a Grazzi Brazil, mas há espaço para muitas outras mulheres.


“A Mulher tem que estar onde ela quiser”, parafraseando o samba da co-irmã GRES Império Serrano. O samba, o qual é inclusivo, a Mulher tem espaço e irá cada dia mais ocupá-lo. Lena participou do Grupo de Pagode Simpatia, foi Madrinha do Samba do Galo, onde lembrou, dentre outros, de Gegê Fernandes; e assim seguiu e segue sua trajetória atuando em diversos outros grupos.


Católica, inseriu, juntamente com outros partícipes, num grupo de samba na internet, a oração aos enfermos, necessitados e nas trevas, sempre às dezoito horas. Respeitadíssima em seu amém, acalenta todos, respeitando o axé de terceiros.


Lena Alves relembra que, no ano em que o GRES Combinados do Amor veio falando de Clara Nunes, o Bobby Brown – ativista do Mundo do Samba em Niterói, na época, era Diretor de Pista, chamou a atenção da intérprete e o glamour da agremiação. Era a Lena que estava toda arrumada e fantasiada de Clara Nunes. Ao virar-se ela achou que era a Portela na avenida de tão belo que estava o GRES Combinados do Amor. A Lena ainda discute o resultado desse carnaval e a posição do GRES Combinados do Amor.


“A turma do samba chegou ... ooo

Lá vem Combinado do Amor .... ooo

A luz de Clara, clareou

Emoção paira no ar

Saudade de nosso cantar”, relembra Lena emocionada.



A Lena separa muito bem a instituição das pessoas. As Escolas de Sambas, mesmo após amarrarem suas bandeiras, deixam seu legado, sua história, a qual não pode nunca ser confundida com ações de pessoas que estejam em cargos ou funções.


Muitas vezes essas pessoas ultrapassam os limites e ofendem, machucam, trazem decepções, mas não é a Agremiação. As Agremiações são lindas, maravilhosas e eternas. Os cargos passam como as nuvens, os cometas, mas nunca serão estrelas. As instituições devem ser defendidas e separadas. Me decepcionei com pessoas, as quais prefere e conclui não merecer que seu nome seja aqui ou em qualquer outro lugar citado, mas adora e defende com “unhas e dentes” todas as Instituições. O Samba é eterno e raiz! Para quem sabe ler um pingo é uma enciclopédia, cita Lena.


Seja lá o que acontecer, passada a tempestade, as estrelas, seja de pequena, média ou de grandeza maior, estarão no firmamento, mas não se pode afirmar isso sobre os cometas. Considera que muitas pessoas ainda não se deram por essa máxima. Enquanto uma bandeira estiver na mente e no coração de alguém, sua estrela estará no firmamento.


Está com um projeto pendente, devido à pandemia, o qual é concluir seu disco de samba com três músicas de Marquinhos Diniz e uma de Mocotó – Compositor campeão da GRES Viradouro, em diversas ocasiões. As músicas são lindas. Em fase de arrecadação de recursos, espera uma oportunidade ou mesmo um projeto público, se possível, voltado às Mulheres, ou semelhante, para dar esse passo.


Nota-se que os projetos para mulheres na cultura deveriam ter modelagem tipo uma cota ou parecido, pois são pouquíssimas e sem apoio privado. Jussara Rios, Leda Lessa e muito poucas outras mulheres deveriam receber mais abertura. Lena espera, com muita fé, que esse projeto saia em breve.



Nos idos dos anos 80 tínhamos em Niterói e região o Grupo formado exclusivamente de mulheres – Mawandê – que, sem apoio, desapareceu. Notemos que, além da discriminação ao samba, as ações, relativas às demandas afro-brasileiras, das religiões pentecostais e, atualmente, dos agentes de extrema direita, os quais colocam qualquer coisa relativa à Cultura como sendo negativa, contra a família ou dizendo que é coisa do diabo. Isso é muito prejudicial e mentira, causando prejuízo para o povo.


Cultura atrai turistas e é a segunda fonte de renda mundial. Cultura cria emprego e renda. Cultura une. Samba é Cultura!


Hoje se esforçam muito para reconstruir o que foi jogado no lixo. Tentaram de todas as formas, mas o carnaval, a Cultura renasceu, e Niterói hoje se tornou uma potência, de novo, e assim seguirá por muito tempo.


Na mesma linha de pensamento, a cidade de Niterói, teve o segundo melhor carnaval do país, o qual foi tentado à destruição, por problemas acima referenciados, somando-se à incompetência administrativa, desvios de verbas – em tese, e mais uma vez as religiões pentecostais.


Demonizaram os artistas e a Cultura e jogam a opinião pública sempre contra os Agentes da Cultura, mas quem se arriscou na pandemia fazendo lives, buscando diminuir a distância e o sofrimento foi o pessoal da Cultura, claro que não podemos retirar o valor essencial dos Serviços Públicos, desde a Segurança Pública, Limpeza Urbana e o maravilhoso pessoal da Saúde, dentre outros.


Muito agradecida à ciência pela vacina, mas com muita dor pelas perdas e sofrimento de parentes e amigos na pandemia. Vê esse ano que nasce como uma nova chance para a humanidade, logicamente se mudarem de atitudes.


Agradece à família e aos inúmeros amigos, neste período difícil, onde quem vive da noite, cantando de bar em bar para, ao raiar do sol, levar o pão e o leite para dentro de casa, esse pessoal da Cultura, foi muito difícil, mas tudo está passando e com muita aprendizagem.


Emotiva, Lena é chamada pelos amigos e admiradores de Rainha, mas disso ninguém tem dúvida desse tão adequado termo à sua pessoa.


Lena Alves é fé, coragem, respeito, admiração, amor e competência. Lena Alves é a nossa Rainha!

Oswaldo Mendes é engenheiro e sambista, não necessariamente nesta ordem.





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