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Maninho da Cuíca: a expressão da Cultura de diversas gerações, por Oswaldo Mendes


Maninho da Cuíca/Foto: Acervo pessoal
Maninho da Cuíca/Foto: Acervo pessoal

Há alguns meses estamos escrevendo sobre pessoas que atuam na Cultura de forma quase focada no Leste Fluminense e muitas deles são ligadas ao Samba. Existe por parte de quase todos os que foram entrevistados uma correlação muito grande com a influência de familiares e a opção pela Cultura. Pais, irmãos, amigos e também a localidade e, no caso de hoje, não será diferente.


Filho de Calangueiro, o qual considerava que Samba não era coisa de Homem honesto. Seu avô era músico. Tios eram também Repentistas e Calangueiros e seu filho, cantor e compositor de sucesso em todas as paradas brasileiras da atualidade, o qual, conforme afirmado pelo pai, de forma muito amorosa, foi nascido e criado dentro da Viradouro: Tiê.

Campeão da última edição de Samba de Terreiro da Ala de Compositores da Viradouro, a qual aconteceu há um mês, pela internet, em função da pandemia e contra a monotonia, isto há dois meses.


Nascido em 1 de julho de 1946, em Vigário Geral, no subúrbio do Rio de Janeiro, depois mudou-se para São João de Meriti, onde cresceu vendo os tios, juntamente com seu pai, que compravam a cachaça, limão e muito calango a noite inteira. Ele, Maninho da Cuíca, se impressionava com os versos e a facilidade com que eram feitos. As noites eram em claro, escutando sanfona de oito baixos e pandeiro, aprendendo. Respostas prontas e bonitas, sempre rimadas e assim cresceu nesse ambiente. Rimas, calango, e em volta a pressão cultural do samba, o qual à época não era condenada – “coisa de bandido”.


Na juventude foi visitar uma escola de samba em Parada de Lucas, também subúrbio do Rio de Janeiro, na Escola de Samba da Capela, escondido do pai, Augusto Carvalho, de Duas Barras – da terra de Martinho da Vila, mas com consentimento de sua mãe.


O tio Joaquim também tinha o dom de versar muito bem, igual ao seu pai.


Um dia, seu pai descobriu que ele estava frequentando escolas de samba. Era confusão certa, caso não tivesse a forte defesa por parte de sua mãe. A mulher decidiu que o Maninho da Cuíca poderia frequentar escolas de samba e pronto!


No seu primeiro samba, Maninho convidou e levou seu pai para ouvir. Era na Unidos de Lucas, escola que por união sucedeu ao Unidos da Capela. Se aperfeiçoou em samba com Zé Borges, Jorginho de Caxias, e daí nunca mais parou.


Partido Alto era seu fraco. Já na adolescência, em São João de Meriti, no Candomblé do Pai Neco, após o término, Maninho era chamado para alegrar o pessoal com Partido Alto. Era chamado muitas vezes em casa. Pela comunidade era considerado um bom partideiro e inclusive sempre era chamado para todas as rodas de sua região. Cantou com pessoas como Serginho Meriti, Bebeto São João, o qual tem músicas gravadas com ele, dentre outros.

Passou pelo Unidos da Ponte, Quem quiser pode Vir – onde ficou em quarto lugar em concurso de samba de terreiro, o qual era a entrada do compositor em qualquer escola de samba à época.


Maninho da Cuíca sofreu um acidente de trabalho, aqui em São Gonçalo, pois trabalhava em Guaxindiba. Resolveu se mudar para o lado de cá da Ponte Rio-Niterói, para ficar mais perto da empresa e assim possibilidade de melhor recuperação, mas não deixou o samba.

Em casa, à noite, ouvidos afiados, escutava longe um som conhecido: samba. Perguntou aos vizinhos onde tinha escolas de samba aqui em São Gonçalo perto de sua casa e foi lhe respondido, dentre outras, o Unidos de Bairro Almerinda. E lá foi Maninho visitar a agremiação e por lá se integrou.


Concorreu a samba, mas foi avisado que sem um “da escola, da casa” não ganharia. Assim formou parceria com Geraldo Sudário, onde por diversas vezes foram campeões. Parceria Maninho e Geraldo Sudário também foram campeões em outras agremiações, dentre elas a Boassu. No Vila Três, foi campeão de festival de MPB com Waldir Domingues. No festival da canção do SESC, na Tijuca, ficou em segundo lugar com a música “O velho Chico”, sendo a campeã a Sandra Sá.


Com Gegê de Itaboraí, padrinho de Tiê, ficou com o vice-campeonato no vigésimo terceiro festival de músicas de favelas, em Laranjeiras, Rio de Janeiro. Caracol de Copacabana, com Luiz Pé de Ferro foram bicampeões.


Com o final da Bairro Almerinda, lá se foram para a Viradouro a convite de Aldair Conceição. Foi apresentado pelo Gegê de Itaboraí. Caduza era presidente. Chegou à agremiação concorrendo samba e indo ao final na parceria com Geraldo Sudário e presidência da Ala com Aldair Conceição. No Império também foi a final. Foi parceiro de Pavão, Dabahia, Mocotó, Reinaldo Guimarães Professor, Lambreta, Dona Alice, Geraldo e outros. Declara sua paixão pelo Viradouro o S. Jorge Moreira de Carvalho.


Lambreta, Jorge Sudário, Telinho, Moacyr M.M – ídolo do Tiê., Paulinho da Maricá, Cidadão e outros foram os professores do Tiê, e reafirma, com extremo orgulho, que seu filho ter crescido dentro da quadra e sua base é samba raiz.


Os sambas nas quadras eram cantados pelos compositores, os quais, ao chegarem, anotavam em caderno a sua honrada apresentação da sua obra. Nada de cantores profissionais. Eram o samba na fonte. O compositor era quem fazia a festa. Isso acabou. O samba ficou caro. O samba de terreiro é contado agora em livros. E nessa linha pode-se relacionar, também, com o final de sambas antológicos. Criou-se os “Escritórios de Samba”. Agora é outra época.


O samba pode ter mais qualidade. Tem que se buscar o melhor. Reduzir o gasto. O dinheiro é o que está definindo o samba: “O compositor duro não tem mais vez. É fácil verificar até mesmo pela qualidade do samba e quantos CD’s são vendidos ou músicas tocadas no período de final de ano. Samba hoje é dinheiro”


Sou dos velhos tempos. Sou raiz!


As escolas de samba devem cobrir uma lacuna da Sociedade. Devem criar e ensinar. Nenhuma escola de samba será verdadeiramente campeã se não reconhecer suas bases. Exaltem os puros. Que sejam exaltados os Navegas, Lambretas, Arídios, Dabahias, Moaças e Maninho da Cuíca. A eles, toda a honra e glória.

Oswaldo Mendes é engenheiro.





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