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Maria Nelma espalha o amor que São Gonçalo precisa, por Mário Lima Jr.

Uma coisa finalmente aprendi sobre São Gonçalo. Quem conhece a história do povo e do território, além do abandono que os olhos são capazes de ver, está condenado a amar a cidade. Quanto maior o conhecimento, mais intensa será a paixão. Professora, pesquisadora e membro da Academia Gonçalense de Letras, Artes e Ciências, Maria Nelma Carvalho Braga dedicou décadas a estudar e compreender o município gonçalense. Sabe muito sobre ele. Seu amor é tão grande que só pode ser comparado àquele que mães sentem pelos filhos e filhos por suas mães. Que levaria à violência na defesa um do outro. Vista como tímida e calma por parentes e amigos, Maria Nelma eleva bastante o tom de voz em defesa da cidade.


São Gonçalo tem papel mais importante na história do Rio de Janeiro e do Brasil do que a maioria imagina. Conheci esse papel, e Maria Nelma pela primeira vez, através de uma das obras da acadêmica, o livro “O município de São Gonçalo e sua história”, que comprei há alguns anos no Café Cultural Seu Machado, na Parada 40. Como qualquer gonçalense, eu amaldiçoava a cidade porque só via seus problemas e me sentia carente, carente de conhecimento e de amor por São Gonçalo. Maria Nelma e seu livro me deram o que eu queria.


Segurar um livro sobre a história de São Gonçalo continua sendo um choque, uma surpresa. Os livros existem, o problema é distribuição, divulgação e acesso ao público geral. Através da obra maior de Maria Nelma, escrita para a pessoa simples, que se cansa de obras complexas e busca informações rápidas, de acordo com a autora, o morador descobre que a história da cidade tem aspectos positivos que em diversos momentos a colocaram em destaque diante de todos os outros municípios brasileiros, tanto na agricultura quanto na indústria. E ainda tem gente buscando motivo para se orgulhar de São Gonçalo.


Se respeitasse a história, o lema do governo municipal seria “São Gonçalo pioneira”, ao invés de “Cuidando dos gonçalenses”. Como se o povo que tantas vezes criou e inovou dependesse do governo para sobreviver. Aliás, São Gonçalo não precisa viver do passado, mas aprender com aquilo que deu certo antes e por negligência foi descontinuado antes de ser aprimorado.


Conheci Maria Nelma pela segunda vez no ciclo de palestras em comemoração pelos 440 anos de São Gonçalo, comemorados esse ano. Isso, São Gonçalo não “saiu” de nenhuma outra cidade no século 19, a história do município tem início no dia 6 de abril de 1579, com a doação de uma sesmaria a Gonçalo Gonçalves, devoto do santo protetor dos violeiros que conhecemos. Na palestra de Maria Nelma, as palavras que saíam da senhora frágil e de fala mansa pareciam gritar para a população que ela tem, diariamente, milhões de motivos para gostar de si mesma. Segundo a autora, a imprensa não destaca como deveria as coisas boas que a cidade produz.


Nós estamos livres da responsabilidade de dar o primeiro passo para São Gonçalo se reerguer, Maria Nelma já deu. Só precisamos segui-la. Dela transborda com força contra o atraso e se espalha como o vento, impetuoso sem perder certa delicadeza, o carinho e o respeito que nós merecemos.

Mário Lima Jr. é escritor.


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