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Maricá e a pobreza de Gonça, por Helcio Albano

A Câmara de Vereadores promoveu durante três dias, para meia dúzia de gatos pingados, audiências públicas que debateram a Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2020.

Uma mera formalidade, como disse o ex-vereador e atual diretor da Casa Legislativa, Marco Rodrigues, porque não existe por parte da prefeitura, e muito menos da sociedade organizada, ações concretas para pôr fim ao ‘copia e cola’ de destinação dos recursos das planilhas já existentes, pelo menos desde 2009, quando ele, Rodrigues, era o então secretário de Administração do município.


A terrinha, que viu renascer uma classe trabalhadora com melhor renda e escolaridade, depois de décadas de esvaziamento econômico para Niterói, passa novamente por dilema semelhante, desta vez para a costeira, endinheirada e ainda bucólica Maricá, que com o baixo valor fundiário de suas terras à beira-mar, promete melhor qualidade de vida aos gonçalenses que migram em massa para a cidade vizinha, preferencialmente ao bairro Itaipuaçu, hoje quase uma comunidade de funcionários públicos e militares de baixa patente, sobretudo PMs, que fugiram de áreas conflagradas de São Gonçalo.


O parágrafo aí de cima tomou vida própria, confesso, e bateu um medo danado agora: Se os maiores contribuintes abandonam a cidade, o colapso orçamentário é inevitável?

Plus

Na LOA 2020, a prefeitura apresentou orçamento no valor estimado de R$ 1,45 bilhão, projeção assumidamente fictícia por todos os secretários do governo. Nos últimos 5 anos, segundo informação da Fazenda municipal, o abismo entre os recursos empenhados e os executados foi de 35% a menos [em média] em todas as secretarias.


Isto é, R$ 430 milhões do orçamento 2020 são apenas fumaça. E nada, absolutamente nada, indica que haverá melhora nesse cenário.


No plano federal, não há sinais concretos de retomada do crescimento econômico. O PIB 2019 deve fechar em +0,82%, o que é pífio, e no ano que vem, os oráculos do mercado não se atrevem a ir muito além dos 1,6% de crescimento o que, convenhamos, não faz nem cosquinha.


No Rio, a vaca e o acordo fiscal com a União - acordo esse que mantém o estado falido de pé - caminham a passos largos para o brejo, sob a megalomania de um governador sem-noção, ambicioso e irresponsável, que resolveu bater de frente com a famiglia em busca do seu sonho de ser presidente.


Daí, o drama: 78% do orçamento de São Gonçalo, com 1,2 milhão de habitantes, é constituído de repasses da União e do estado.

Ligue os pontos.

Bônus

Um dono de bar do Porto Velho recentemente foi obrigado a fechar as portas. Motivo: seus clientes, quase todos professores, funcionários públicos da prefeitura e policiais militares, se mudaram para Maricá.


A história, infelizmente, é real. E vem acontecendo nos quatro cantos da cidade.


Bonus Track

Os que se mudaram para Maricá colocaram suas antigas casas à venda na mesma rua do bar. Três casas pelo menos com a placa de venda, e o valor médio pedido pela imobiliária é de R$ 280 mil cada uma.


Uma casa, dentro ou fora de condomínio, com 3 quartos, amplo quintal e piscina em Inoã, Cordeirinho ou Itaipuaçu, custa R$ 220 mil.

Helcio Albano é jornalista e editor do Jornal Daki.

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