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Medo, medo, medo. Por Fábio Rodrigo


O motivo do medo, medo, medo na pacata Bodega Bay eram "Os pássaros" do mestre Alfred Hitchcock
O motivo do medo, medo, medo na pacata Bodega Bay eram "Os pássaros" do mestre Alfred Hitchcock

Um acontecimento deixou a cidade de Trabobó do Norte bastante intrigada. De uma hora pra outra, toda a população passou a ter medo, muito medo. Medo de tudo e medo de todos. Medo, medo, medo. Ninguém sabia dizer o motivo de tanto medo. Tudo começou quando os comerciantes fecharam todos juntos as portas dos estabelecimentos comerciais sem uma justificativa convincente. Medo de assalto? (Mas em Trabobó do Norte o último registro foi há 20 anos). Medo de lobisomem? (Mas as novas gerações não acreditam mais nestas coisas). Medo então de quê?


O medo foi sendo transmitido para cada uma das pessoas. Era só uma pessoa demonstrar medo que já era motivo para alguém ter medo desta pessoa. Ninguém se aproximava mais de ninguém. Todos tinham medo um do outro. Medo, medo, medo. Uma junta de especialistas no assunto, como psicólogos, médicos e assistentes sociais, foram convocados para desvendar este mistério. Ou para tentar, pois nem eles queriam se envolver com isso. Estavam também com muito medo.


Os moradores iam pras ruas somente em casos de extrema necessidade. E voltavam correndo com medo pra casa. Após entrarem nas casas, trancavam o portão com cadeado. Janelas e portas também fechadas. O motivo: medo, muito medo. Na TV, os especialistas em saúde tentavam elocubrar o que havia causado tamanho medo na população. “Parece que fomos contaminados pelo medo”, disse um deles.


Dias depois, grande parte da população deu início a uma debandada da cidade. Todos fugiam por medo. Com medo, as pessoas não queriam saber mais de lá. Por causa do medo, a cidade foi se esvaziando. De tanto medo, não sobrou ninguém. E também se esgotaram meus adjuntos adverbiais causais. O leitor já deve imaginar o que virou Trabobó do Norte. Pois é, a cidadezinha do interior tornou-se uma cidade fantasma. O motivo: medo, medo, medo. Muito medo.

Fábio Rodrigo Gomes da Costa é professor e mestre em Estudos Linguísticos.






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