top of page

Morre uma palmeira histórica, por Rui A. Fernandes


Em diálogo com o texto “Adeus à Talipot da Parada Quarenta” de Erick Bernardes.


Matriz de São Lourenço: Niterói, RJ/Fonte: IBGE
Matriz de São Lourenço: Niterói, RJ/Fonte: IBGE

Querido amigo Erick,


Como vai? Espero que tudo bem consigo e com os seus, nestes tempos de pandemia e de outras tantas esquisitices que nos fazem pensar “que mundo é esse?”.


Acabei de ler seu texto “Adeus à talipot da Parada Quarenta” e de assistir ao vídeo. Uma delícia, como sempre! Seus textos são um refresco para todos nós que acreditamos na humanidade.


Ao lê-lo, me veio à memória um texto, já antigo, do qual retomo o título “Morre uma palmeira histórica”, do padre José Nicodemos dos Santos. Este se encontra no Jornal do Instituto Histórico de Niterói, primeiro volume, de 1976.


A palmeira, tema do texto do padre José Nicodemos, localizava-se em São Lourenço, Niterói, entre a casa onde nascera Benjamim Constant e a Igreja daquele santo, recém inaugurada e que até hoje pontifica no início da Alameda São Boaventura. Ela compunha o conjunto de 12 palmeiras imperiais plantadas em dois renques simétricos. Estando à frente desta parelha de colunas, foi alvejada, em 1894, por uma bala de canhão, que partira de um dos navios que compunham a frota em rebelião contra o governo de Floriano Peixoto. Evento que entrou para a história como Revolta da Armada. Fora um dos ataques que a Armada impingiu à capital fluminense, em sua tentativa de se apoderar do arsenal depositado na ponta da Armação e estabelecer um ponto de apoio terrestre. O ataque foi rechaçado pelo batalhão da do Quartel General da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, com o apoio de batalhões patrióticos formados por civis que defendiam a cidade e a república. Isto deu a Niterói o título de Cidade Invicta!


A bala de canhão acertara o centro do estípite, atingiu a laje granítica da soleira da porta principal do templo e, de ricochete, a asa de um anjo que ornava o seu interior. A lesão causada não lhe ferira de morte, tendo se mantido florida. Constatava o padre que, em 1976, após 90 anos do ocorrido, encontrava-se despojada das folhas que eram o sinal de sua morte. Morta, ela ainda resistia em pé como reminiscência dos conflitos que marcaram a implantação da República em nosso país.


A palmeira fora o mote para que o padre pudesse retomar o papel desempenhado por Niterói naquele evento. Era como que um patrimônio natural que resistira ao tempo, como testemunho das lutas dos defensores daquela cidade que se colocou ao lado das tropas legalistas, defendendo o regime republicano, considerado, por alguns, como meio para a regeneração da nação dos séculos de escravismo e desmandos da classe senhorial.


A Talipot da Parada Quarenta surgiu como o sonho da D. Jô em embelezar o lugar onde vive. Um sonho comum a todo gonçalense que deseja ver este município mais florido. A Talipot se tornou, nos últimos tempos, um atrativo para todos os locais e os estrangeiros. Representou o afinco de uma pessoa que a plantou sem saber a veria florir. Novamente algo comum no verdadeiro gonçalense que deseja ver seu município melhor. Sonha, planeja e atua, buscando um lugar melhor, mesmo que não seja para ele. Que a morte da Talipot não simbolize a morte dos sonhos dos gonçalenses sempre desejaram um município melhor. Mas que, enquanto permanecer em pé, inspire que continuemos sonhando, resistindo e lutando por uma São Gonçalo mais florida.


Grande abraço,

Rui Aniceto Nascimento Fernandes

Desta terra do beato amarantino, 13/12/2020

Rui Aniceto Fernandes é professor de História do Departamento de Ciências Humanas (DCH) da Faculdade de Formação de Professores (FFP-UERJ).





POLÍTICA

KOTIDIANO

CULTURA

TENDÊNCIAS
& DEBATES

telegram cor.png
bottom of page