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Mulheres negras nas ciências: tornando as ausentes presentes, por Lourdes Brazil

Mulheres negras! Enfrentamos uma série de problemas, cujas soluções precisam de nossos cérebros, mãos e corações.
Do alto da esquerda para a direita, as mulheres negras cientistas brasileiras: Sonia Guimarães, Enedina Alves, Jaqueline Goes de Jesus, Viviane dos Santos Barbosa, Anita Canavarro, Simone Maia Evaristo, Luiza Bairros e Joana D’Arc Félix de Souza.
Do alto da esquerda para a direita, as mulheres negras cientistas brasileiras: Sonia Guimarães, Enedina Alves, Jaqueline Goes de Jesus, Viviane dos Santos Barbosa, Anita Canavarro, Simone Maia Evaristo, Luiza Bairros e Joana D’Arc Félix de Souza.

No dia 25 de juho de 1992 foi realizado o primeiro Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas, em Santo Domingos, na República Dominicana, ocasião em que foram discutidos assuntos como machismo, racismo e formas de combatê-los. Do encontro, nasceu o Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha. Desde então, todos os anos, a data é marcada pela realização de eventos que discutem direitos a serem conquistados e conquistas a serem divulgadas.


No Brasil, a maior parte das mulheres negras está na base da pirâmide social, com todas as implicações que tal localização produz: moradia em lugares precários, baixos níveis de renda, exposição à violência, dificuldade de acesso e permanência na escola, ganhar cerca de 75% dos salários de um homem branco, ser a maior vítima de violência ginecológica e alvo do racismo institucional. Essa é a realidade da maioria esmagadora de mulheres negras do Brasil e também do mundo, de acordo com o último relatório do Fundo de População das Nações Unidas. Evidentemente são aspectos preocupantes, que precisam ser debatidos, porém escolhi falar da sub-representação das mulheres no universo das ciências. Falar daquelas que furaram o cerco, visando incentivar outras a seguirem o exemplo.


Em 1913 a revista Women in Science, escrita por H. J., publicou um convite para as mulheres: “Voces estão convidadas a atuarem no empreendimento científico e desencadearem as energias de metade da população do planeta". O convite foi feito porque já naquela época havia uma preocupação com a sub-representação das mulheres nas ciências. Meu texto é um convite: Mulheres negras! Enfrentamos uma série de problemas, cujas soluções precisam de nossos cérebros, mãos e corações. Venham participar desse empreendimento!


O percentual de mulheres pretas e pardas doutoras, professoras de programas de Pós-Graduação é inferior a 3% e somente 7% das bolsas de produtividade são destinadas a mulheres negras. Por que números tão baixos? Isso se deve ao sexismo, androcentrismo e racismo. Os dois primeiros referem-se às barreiras que são impostas à inserção das mulheres na ciência e, em contrapartida, às facilidades encontradas pelos homens para essa mesma inserção, o que confere à ciência um caráter androcêntrico. Ou seja a estrutura social da ciência não apenas exclui as mulheres de seu universo, mas esse universo é historicamente construído no masculino, sem levar em conta a presença feminina e suas especificidades.

Já o racismo, cujas raízes podem ser atreladas ao genocídio perpetrado através do sequestro e escravização da população negra, deixou marcas que persistem, através da desqualificação, do ocultamento, e impedimentos. Continuamente os negros e negras são desqualificados. São considerados perigosos. Representam ameaça e isso é divulgado de forma contínua em vários espaços. O negro está sempre sob suspeita. Alguns territórios propiciam ainda mais essa situação.


Além disso, suas contribuições são ocultadas ou minimizadas. O que é feito por negros fica circunscrito a uma esfera muito pequena. Não há interesse da grande mídia e os próprios negros não divulgam suas conquistas. Isso decorre em parte, pela dificuldade de acesso aos meios de comunicação e de outra parte, de uma certa dificuldade em romper com a identidade social negativa, que é construída e atualizada, sendo colocada diante de nós, como um espelho.


Apesar de tudo isso mulheres negras, como recomenda a pesquisadora Sueli Carneiro estão enfrentando “o aniquilamento da capacidade cognitiva e da confiança intelectual dos negros”. Estão nas universidades, laboratórios, salas de aulas, grupos de pesquisas. Há uma lista pequena e grande ao mesmo tempo, constituída por mulheres que venceram barreiras e estão na linha de frente da produção do conhecimento. Eu sou uma delas!


Coordeno o grupo de pesquisas do CNPq, vinculado ao programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da UFF, intitulado Engenharia, Cidades e Sustentabilidades, que desenvolve pesquisas sobre a cidade e seus problemas, sobretudo os provocados pelo processo de urbanização.

Do alto da esquerda para a direita, mulheres negras que fizeram história na América Latina: María Elena Moyano (Peru), Argelia Laya (Venezuela), María Remedios del Valle (Argentina), Virginia Brindis de Salas (Uruguai), Amy Ashwood Garvey (Jamaica), Sara Gomez (Cuba), Sanité Bélair (Suzanne Bélair – Haiti) e Tereza de Benguela (Brasil)
Do alto da esquerda para a direita, mulheres negras que fizeram história na América Latina: María Elena Moyano (Peru), Argelia Laya (Venezuela), María Remedios del Valle (Argentina), Virginia Brindis de Salas (Uruguai), Amy Ashwood Garvey (Jamaica), Sara Gomez (Cuba), Sanité Bélair (Suzanne Bélair – Haiti) e Tereza de Benguela (Brasil)

Lourdes Brazil é Diretora do Centro de Educação Ambiental Gênesis, Mestre Doutora em Ecologia Social (UFRJ), Especialista em Planejamento Ambiental (UFF), Especialista em Metodologia do Ensino Superior (UFF), Bacharel em Ciências Econômicas (UFF).




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