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Mundéu ou Mundel: a verdadeira história do bairro Guarani, por Erick Bernardes


Casal Fontoura/Foto: Acervo Mere Viviane
Casal Fontoura/Foto: Acervo Mere Viviane

Esta crônica toma como base o relato de uma leitora especial. Sim, exatamente, digo especial porque ela se mostrou preocupada em resgatar a memória local, quando decidiu contactar a redação do Jornal Daki e nos oferecer a verdadeira história do bairro Guarani. Obrigado, Mere, pela magnífica e necessária contribuição.


Eu havia escrito uma crônica há quase dois anos, tomando a região conhecida por Mundéu como tema central do enredo. No entanto, conforme a dificuldade da época, pouquíssima informação consegui coletar. Mas a vida nos reserva surpresas, não é mesmo? De lá pra cá, muita coisa surgiu, outras histórias de bairros chegaram a ser veiculadas e, acredite, nosso texto foi lido com atenção pela pessoa certa, culminando enfim neste precioso relato. Quem é ela? Mere Viviane, a sobrinha-neta do fundador do bairro Guarani, uma leitora solícita e que, por causa de uma dessas coincidências da vida, leu a nossa crônica e decidiu contribuir para a memória local. Vamos ao relato:


— Boa noite, Erick. Tudo bem? Sim, posso contar o que sei. O Bairro Guarani foi assim registrado porque havia uma granja chamada Guarani, onde todos os moradores compravam frangos vivos ou abatidos ali mesmo. Como foi o primeiro comércio do bairro em questão, alguns residentes se encontravam lá para prosear. Exatamente assim. Por causa dessa granja, o lugar ficou registrado como Guarani. Os moradores não se acostumaram com o real nome e passaram a chamar de Mundéu (ou Mundel). O meu tio Manoel Fontoura deu nome à rua onde tem o Ciep que você mesmo apontou naquele texto. Verdade, registrou-se Rua Manoel Fontoura, no intuito de homenageá-lo. Isso porque ele foi o primeiro morador a chegar nas redondezas como migrante da região de Alegre, no estado do Espírito Santo. Já pôs os pés em São Gonçalo procurando uma roça. Quis um sítio para trazer toda família — e se deparou com uma quase floresta de eucaliptos plantados por alguém —apaixonando-se assim pelo lugar. Quanto ao apelido Mundéu, isso quer dizer arapuca, armadilha primitiva de chão. Pois a mata era muito fechada, e capturavam pássaros com as referidas armadilhas.


Bem, caro leitor, necessário reconhecer que a explicação de Mundéu ter origem em certo tipo de arapuca de caça de animais de pequeno e médio porte eu já sabia. Sim, Mundéu com letra "u" no final, instrumento de caçadores. O próprio pesquisador Jorge Nunes outrora me revelou por conversa de telefone. Nada escrito conforme placas de ônibus ou coisa do tipo. Armadilha da mata, Mundéu com "u", isso sim. Contudo, a raridade das informações acerca da chegada dos primeiros moradores merece demasiada atenção. Continuemos na voz da nossa narradora:


— Sabe-se que, depois de toda família se instalar por aqui, foram chegando moradores variados. Depois de muitos anos, meu tio Manoel Fontoura, preocupado com a situação econômica e social dos habitantes, resolveu criar a primeira associação de moradores do Mundéu. Na primeira reunião, eu já era nascida, época em que se constatou a necessidade urgente de uma escola. Claro, importantíssimo, educar meninos e meninas em São Gonçalo se tornou questão de honra. Como a prefeitura não tinha condições, solicitaram ao Governo do Estado o Ciep Estadual Getúlio Vargas. Aquele mesmo que você visitou e se chama agora Colégio Estadual Vila Guarani.


Nossa, que maravilha de narrativa! Posso incluir seu relato do jeito mesmo que você me contou?


— Sim, está autorizadíssimo. Meu Nome é Mere Viviane Carvalho. Se quiser mais esclarecimentos sobre a existência desse lugar, conte comigo. Muito grata por publicar a nossa história. De fato nos encontramos abandonados pelo poder público. Abraço.


* NOTA DO AUTOR: Acaso não fossem ajudas como as de Mere Viviane Carvalho, decerto a memória da nossa cidade se apagaria. Por isso, devemos a ela a mais sincera gratidão.

A placa da rua rende homenagem ao tio-avô/Acervo: Mere Viviane
A placa da rua rende homenagem ao tio-avô/Acervo: Mere Viviane

Erick Bernardes é escritor e professor mestre em Estudos Literários.





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