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Ney e Genésio - por Paulinho Freitas

SÃO GONÇALO DE AFETOS

Reprodução Internet
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_ Seu macaco!

_ Branco azedo!

_ Chiclete de asfalto!

_ Bunda de banha!


Assim se trataram pela infância, adolescência e uma parte da vida adulta os amigos (?) Genésio e Nei Baiacu. Nascidos vizinhos de muro, seus pais também não se davam. O pai de Genésio tinha ódio mortal do pai de Nei Baiacu e vice versa. Ninguém sabe quando e nem onde na história de vida dos dois aquilo teve início e até o fim da vida um jurou matar o outro.


Genésio e Nei Baiacu eram pescadores e passavam a maior parte do tempo no mar, nem sempre ao mesmo tempo, mas quando coincidia dos dois estarem em terra ao mesmo tempo era briga na certa e por qualquer motivo. Ás vezes até sem motivo. Era só um avistar o outro que a pancadaria era certa.



Quando jovens Genésio se apaixonou por Maria Hilda, uma professora de grandes olhos verdes que lecionava num externato lá pelos lados do Porto Novo. Só que ela tinha um encanto todo especial por Nei Baiacu que por sua vez era apaixonado pela negritude de Noélia, coisas e bagunças que esse tal de amor faz para animar ou agitar a vida.


Genésio quando soube do amor de Nei Baiacu por Noélia não perdeu tempo e se antecipou prometendo mundos e fundos a ela no caso de aceitá-lo em namoro. Correspondido fazia questão de passar de braços com Noélia na frente de Nei Baiacu com ar de vitorioso.

No dia de seu casamento fez questão de passar com o carro cheio de latas amarradas no para-lamas fazendo zoeira na porta do pobre Nei só para fazê-lo sofrer.


Nei Baiacu ficou um tempo no sofrimento até que Maria Hilda derramou todo seu charme sobre ele que se agarrou a ela para tentar esquecer Noélia. Casaram e por ironia do destino foram morar na mesma rua onde Genésio e Noélia moravam. Depois de muitas brigas e os dois casais grávidos, Nei mudou com a família para Cabo Frio onde comprou um barco de pesca em sociedade com o sogro.



O tempo passa que a gente nem vê. Outro dia soube que Nei se aposentou e voltou para São Gonçalo. Numa tarde dessas lá na Praia das Pedrinhas ele encontrou por acaso com Genésio e quase saíram no tapa como nos velhos tempos. Desta vez o motivo foi que Genésio disse que a filha de Nei é garota de programa e Nei espalhou que o filho de Genésio é afeminado.

A bulha estava formada novamente.


O engraçado é que as duas mulheres não se metem na confusão e se dão muito bem. E enquanto Genésio e Nei estão querendo se estapear, os filhos, Nayana, filha de Nei e Edésio, filho de Genésio trocam ofensas lá no Mirante de Boa Vista contemplando aquele final de tarde maravilhoso que só São Gonçalo tem:


_Meu macaquinho!

_Minha branquinha azeda!



Detalhe: A filha de Ney tem os olhos da mãe, mas o andar, o jeito e até o gaguejar quando fala lembra muito o Genésio. Já o filho do Genésio tem o rosto a cor bonita jambeteada da mãe, mas o sorriso, a perna arqueada e o gargalhar alto lembra muito o jeito do Ney.

Esse Romeu e Julieta à brasileira acabou em choradeira e abraços num lindo casamento cuja a festa começou sábado e acabou na segunda de manhã, afinal, meu São Gonçalo é de afetos e “não há mal que muito dure e nem dor que não se cure”!!!!!

Paulinho Freitas é compositor, sambista e escritor.



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