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O desempregado, por Fábio Rodrigo


Imagem a partir de foto de Agência Estado
Imagem a partir de foto de Agência Estado

O cartaz afixado na porta dizia: Temos vagas de emprego. Rapidamente uma fila começou a ser formada e, às 8 horas da manhã, já dava voltas pelo quarteirão. Minutos depois, finalmente o recinto era aberto para a entrada do público. Uma única pessoa era responsável por entregar a ficha de inscrição aos desempregados e recolhê-las devidamente preenchidas.

Uma legião de desempregados se aglomerava em uma pequena sala sem ventilação e se esforçava para colocar no papel seus dados pessoais, sua formação, suas experiências anteriores etc. Muitos não sabiam preencher o formulário e buscavam informação. Sem o mínimo de paciência, outra funcionária dava orientações aos candidatos. Enquanto uns demonstravam ter qualificação para ocupar uma das vagas, outros mal sabiam assinar o seu próprio nome.


Dentre os inúmeros postulantes a vagas de emprego, chamou-nos a atenção a presença de um senhor analfabeto e de traje muito simples. Aparentava ter uns 60 anos e, com uma serenidade aparente, esperava pela ajuda de uma alma bondosa para lhe auxiliar no preenchimento do formulário. O senhor não tinha a menor ideia do lhe era pedido naquela folha de papel. Ao notar sua incapacidade em lidar com a ficha de inscrição, um indivíduo se aproximou e ofereceu ajuda. Ao ser perguntado sobre o número de seus documentos, o senhor riu e, com modos bem rudes, disse não tê-los. Como assim?, perguntou o indivíduo. RG? CPF? Nada? Enquanto o indivíduo se perguntava como faria para ajudá-lo, o senhor apenas sorria de tudo. Nada lhe aborrecia. Se acostumara com a ausência do que lhe é de direito. Era o retrato da miserabilidade moral. Explicou que trabalhou a vida inteira para um dono de fazenda no interior do estado, que, num certo dia, resolveu dispensá-lo. Ele não tinha direito a fundo de garantia, aposentadoria... Absolutamente nada!!!


Ao ser convencido de que não havia possibilidade de encaminhá-lo para qualquer oportunidade de emprego disponível, o senhor, sem se queixar de nada e com toda a sua resignação, se dirigiu à porta de saída como um ser adestrado a sempre ser submisso a tudo e a todos.

Fábio Rodrigo Gomes da Costa é professor e mestre em Estudos Linguísticos.




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