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Os judeus na Fazenda Monte Raso - por Erick Bernardes


Foto: Pixabay
Foto: Pixabay

Ao todo foram 122 judeus alemães vivendo por um tempo na Fazenda Monte Raso, situada em São Gonçalo. Ficariam ali instalados, em condições nada confortáveis, até que os governos alemão e brasileiro decidissem que rumo dar a toda gente abrigada. Frida Seligmann era uma das moças de origem judaica que escolhera o Brasil para trabalhar. Mas não deu certo, tão logo o governo de Adolf Hitler intensificou a perseguição, o perigo atravessou o atlântico e virou aquele pesadelo que o mundo conheceu.



Frida era engenheira química especializada em compostos inflamáveis e veio para o Brasil a convite de um importante industrial do ramo de combustíveis. No entanto, tão logo a ordem alemã foi dada ao governo brasileiro, ela e inúmeros judeus foram obrigados a se alocarem na fazenda Monte Raso. No espaço de confinamento conheceu Matinei Gondarev, judeu imigrado da Rússia para o Brasil com vistas a implementação de tipografias de jornal. Resultado? Frida e Matinei se apaixonaram e se amaram. Sim, ali mesmo, entre as colinas onde hoje é o bairro das Palmeiras, em São Gonçalo, eles se relacionaram sexualmente dezenas de vezes. Até que a jovem judia engravidou, o bebê era um menino, cujo nome abrasileirado Marcelo viria bem a calhar acaso a perseguição nazista continuasse — e pior que continuou, um tormento na vida dos judeus. Matinei e mais da metade das famílias foram enviados para um dos campos de concentração denominados lager e lá mesmo morreram incognitamente. Frida conseguiu se camuflar e sobreviver no Brasil, até falecer de febre tifoide quando Marcelo já alcançara seu 14 anos. Quer saber como ela e alguns judeus viveram por aqui durante década e meia, apesar do genocídio alemão continuar acontecendo na Europa? O caso é que o acordo entre Brasil e Alemanha não correu como o previsto. O proprietário da fazenda Monte Raso, o senhor Domingos José, descumpriu muitas ordens em que deveria obrigatoriamente infligir maus tratos às famílias judaicas que ele abrigava. Mas o proprietário não era ruim, sujeito bom, ajudou até onde pode aquele pessoal assustado. Disseram até que o Marcelo (filho de Frida) fora registrado como sendo filho de Domingos, para que o garoto não sofresse perseguições.



No entanto, sabe-se que Domingos José, embora constituísse o dono da propriedade rural onde os judeus habitavam provisoriamente, não se mostrou muito afinado com as ideias nazistas a ele impostas. Isso mesmo, descumpria em parte as ordens dadas pelos governos tanto brasileiro quanto alemão. Daí decorreu a prisão do pobre coitado.


De acordo com Maria Nelma C. Braga: “foi o Sr. Domingos José preso sob a acusação de esconder refugiados de guerra. A seu favor, depôs o Dr. Luiz Palmier. Com esses acontecimentos terminou a fazenda abandonada”. (2006, p. 111).



A prisão não durou muito tempo, Domingos apesar de liberto não teve dinheiro para levar a vida abastada com a qual fora acostumado. Tornou-se um tipo de gerente modesto de uma carvoaria. Buscou Marcelo que ficou escondido na casa de uma conhecida, criou o garoto de maneira humilde e ensinou ao menino um pouco da economia agrícola.


Bem, para encerrar a narrativa, informo a você, leitor, que essa história me foi oferecida pela senhora Thânia Mendonça. Ela jura ser a verdadeira bisneta de Frida e Matinei, cuja narrativa contada pelo avô (o próprio Marcelo) escutou desde pequenininha e tentou levar a público depois, mas ninguém (exceto eu) lhe deu algum crédito.


Referência:


BRAGA, Maria Nelma Carvalho. O município de São Gonçalo e sua história. Niterói, RJ: Nitpress, 2006.

Erick Bernardes é escritor e professor mestre em Estudos Literários.





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