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Para viver um grande amor - por Paulinho Freitas

SÃO GONÇALO DE AFETOS

Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Na Rua América, ali no Gradim, morava Zé Lustrosa, um pastor protestante austero, fiel a moral e bons costumes. Jamais bebeu ou fumou. A família de Zé Lustrosa, toda ela protestante desde sempre tinha pavor de Dona Bebete, a dona de um centro espírita, o mais famoso de São Gonçalo, vinha gente do Rio de Janeiro, São Paulo e até do exterior para consultar com os guias dela. Em época de eleição todos os candidatos iam lá bater cabeça em seu gongá. Não havia doença que não se curasse com as rezas dela e nem trabalho feito que ela não desfizesse. A macumba de Bebete era porreta!





Zé Lustrosa foi criado nos preceitos bíblicos e evitava até passar na porta do centro. Só que esse tal de amor não vê barreiras, religião, time de futebol, nada. Quando ele quer entrar na vida de alguém não tem quem faça isso não acontecer e a partir do dia em que Zé Lustrosa viu Bebete sem as roupas de santo não conseguiu mais dormir, comer e ter qualquer outro tipo de pensamento que não passasse por Bebete. Ajoelhava sozinho na igreja pedindo ao Senhor que afastasse tais pensamentos, mas parece que Ele não ouvia e cada vez mais o amor de Zé Lustrosa por Bebete ia aumentando e consumindo os dias e noites do homem.


Num domingo de confraternização cristã numa grande congregação no centro de São Gonçalo Zé Lustrosa foi o pregador oficial e palestrou sobre o amor e a religião e disse em alto em bom som aos presentes que um crente sempre deveria se apaixonar e casar com um crente porque era a única maneira de salvação da alma e exemplo para que os de fora invejassem e viessem a congregar com eles em louvação ao criador.



Deu tanta ênfase a suas palavras que emocionou todos os presentes. Quando voltava da igreja desceu do ônibus no bairro Paraíso e chovia um pouco, ainda tinha toda a Rua Visconde de Itaúna para caminhar, parou embaixo da marquise, abriu o guarda chuva e quando começava a caminhada viu Bebete com passos apressados e sem sombrinha. Correu e protegeu-a com seu guarda chuva, o que ela agradeceu. Poucas palavras foram trocadas no trajeto e o bom cavalheiro a deixou na porta de casa. Esta foi a vez de Bebete ficar sem dormir pensando no perfume de Zé Lustrosa, no hálito perfumado que exalava de sua boca cada vez que ele falava.



O tempo foi passando sem que um pudesse se desvencilhar da imagem do outro. Até que num dia de festa na rua, onde todos os moradores confraternizavam e em cada calçada havia uma barraquinha com guloseimas e bebidas que eles trocavam entre si Zé Lustrosa tomou coragem e se declarou para Bebete que correspondeu a declaração positivamente e todos emudeceram ao ver aquele casal que nada tinha a ver um com o outro num longo e apaixonado beijo. Nada foi dito, nada foi perguntado. Nada foi pedido e nada foi cobrado. Só sei que a partir daquele dia os dois passaram a andar de mãos dadas.



Não sei quanto tempo faz que isso aconteceu, só sei que todas as sextas feiras Dona Bebete Dá consulta com suas entidades para ajudar a quem precisa e lá no alto do morro, numa pequena igreja, Zé Lustrosa prega a palavra de Deus.


Os quatro filhos do casal cada um a sua maneira ajudam tanto o pai em suas obras caridosas em visitas a hospitais e prisões, quanto às obras da mãe nos banhos e chás de ervas para aliviar as dores do corpo de quem sofre e nas orações para salvar as almas que procuram luz. O amor uniu duas linhas paralelas que pareciam jamais poder se encontrar. Oxalá abençoou aquela união que até hoje é exemplo de vida e está lá pra quem quiser tirar a prova. E Deus, ah nosso Deus tão poderoso e onipotente que entra até no coração do descrente.


Este fez cumprir sua vontade e provou que estamos aqui não pelo dinheiro, pela religião, pela posição social, ou pelo que você considera essencial na vida para torá-la perfeita.


Estamos aqui pura e simplesmente PARA VIVER UM GRANDE AMOR!!!!!!!

Paulinho Freitas é compositor, sambista e escritor.




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