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Passeatas de Bolsonaro são mais abomináveis que homenagem a Ustra, por Mário Lima Jr.


Foto: Reprodução Internet
Foto: Reprodução Internet

No dia 17 de abril de 2016, Jair Messias Bolsonaro dedicou seu voto pelo impeachment à “memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff”. Ustra comandou um centro de tortura na ditadura militar e, entre os atos que executou pessoalmente, surrou uma mulher grávida e levou duas crianças para assistir os pais sendo torturados. Ao votar, Bolsonaro expôs seu prazer pelas ações abomináveis de Ustra, além do sofrimento de Dilma e de 50 mil brasileiros presos pelo regime militar, segundo a Comissão da Verdade. Seres humanos com o mínimo de dignidade não homenageiam torturadores. Ao subir em uma moto e percorrer as ruas de cidades brasileiras durante uma pandemia que já matou 500 mil e infectou 18 milhões de pessoas, dessa vez Bolsonaro se delicia na dor de um país inteiro que perdeu pais, mães, filhos, parentes e amigos. O ódio político cego contra a esquerda, o centro e a sensatez não é causa, mas sintoma de uma antiga paixão pelo sangue e pela morte.


Contra Dilma, Bolsonaro tem diversas acusações por ela ter participado da resistência contra a ditadura. Contra o povo brasileiro, a raiva dele é absolutamente incompreensível. Para justificar a aparição pública e aglomeração com milhares de motociclistas em São Paulo, Bolsonaro usou como legenda dos vídeos e fotos do evento publicados nas redes sociais nada além do texto “BRASIL ACIMA DE TUDO! DEUS ACIMA DE TODOS!”, seguido pela figurinha de uma moto e da Bandeira do Brasil. Nunca um presidente foi tão raso. Bolsonaro, bem como a psicopatia, estão longe do bom senso e espalham mais doença e morte do que o Brasil pode suportar. Nas imagens do passeio, ninguém usava máscara de proteção contra o coronavírus. O Presidente da República, que deveria ser exemplo de comportamento para o povo diante de crises, sorria e cumprimentava quem se aproximava enquanto os hospitais do país continuam lotados, lutando para salvar vidas.


O mais próximo que bolsonaristas conseguem chegar de uma explicação é que através das passeatas Bolsonaro dá demonstrações de apoio popular e força política, reagindo a ataques frequentes de seus “inimigos”. Assumindo a motivação como verdadeira, os apoiadores do presidente se esquecem que aglomerações podem custar vidas nos dias de hoje. Se qualquer brasileiro corre o risco de ser contaminado e morrer, a manifestação não vale a pena. Grandes governantes já abriram mão do poder para que sangue não fosse derramado. Ao provocar aglomerações em tempos de pandemia, tanto na praia quanto na padaria e no asfalto, questionar a legitimidade dos demais Poderes, investir na transformação das Forças Armadas em sua milícia pessoal e sugerir que haverá convulsão social caso ele perca as eleições de 2022, Bolsonaro prova que está ansioso para ver o chão manchado de vermelho.


De toda barbaridade que Bolsonaro disse e fez na política, antes mesmo de ser presidente, passear de moto enquanto 500 mil pessoas morrem é uma cena de terror incomparável. Bons líderes não aceitam convites para participar de imprudências, eles inspiram inteligência no eleitorado. Com 59% de rejeição ao seu governo (PoderData), a possível perda do poder tem levado Bolsonaro a loucuras maiores e o Brasil à morte.


Este texto apareceu primeiro em mariolimajr.com.

Mário Lima Jr. é escritor.




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