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Pastel, por Fábio Rodrigo


Foto: Ilustração Internet
Foto: Ilustração Internet

Quando lhe perguntavam o que mais gostava de comer, de imediato respondia: pastel. E foi isso que ela mais queria que tivesse no seu aniversário. Não fazia questão de bolos ou docinhos. Ela sabia que seus pais não tinham condições de dar uma festa para ela. Os dois estão desempregados e a família sobrevive graças a uns biscates feitos pelo pai.

Ela iria completar dez anos de idade. Seus pais não queriam deixar a data passar em branco. Mesmo com poucos recursos financeiros, se esforçaram para preparar uma simples comemoração com bolo e refrigerante para a filha. Também tinha salgadinhos, doados por vizinhos que moram na mesma vila que eles.


O pequeno bolo no mesmo tabuleiro que foi ao forno era a mostra de que tudo havia sido feito com muita simplicidade. Ao redor dele, duas garrafas de refrigerante ornamentavam a mesa. Alguns parentes próximos e vizinhos mais chegados se acomodavam na sala. Apesar de pequena, era o cômodo mais adequado para reunir os convidados. Assim que sua mãe terminou de fritar os pastéis, a aniversariante saboreou o seu antes de servir. Era o momento mais aguardado por ela. A última vez que tinha comido pastel foi justamente no seu aniversário do ano anterior. Por isso, não fez cerimônia e comeu com vontade. Afinal não sabia quando poderia comer de novo.

Os pais da aniversariante não dispunham de dinheiro suficiente para comprar uma roupa especial para o aniversário dela, por isso escolheram a melhorzinha que tinha no armário para vestir a menina. Na hora do parabéns, era possível notar que os pais estavam muito felizes em poder proporcionar aquele momento para a filha. Ao soprar a velinha, ela mentalizou o seu pedido. E era simplesmente que nunca faltasse pastel na sua casa.

Fábio Rodrigo Gomes da Costa é professor e mestre em Estudos Linguísticos.




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