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Pecado Capital - por Paulinho Freitas

SÃO GONÇALO DE AFETOS


Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

No pacato bairro da Brasilândia, domingo, seis da tarde, nosso querido e sábio Dedé está sentado em seu banco embaixo da amendoeira, na frente da padaria, sorvendo sua cervejinha gelada, gozando o merecido descanso semanal, quando passa a Dona do mercadinho local, indo para a igreja dentro de um carro novinho, que só sai da garagem nessas ocasiões ou para levar a mãe ao médico.


A motorista buzina e dá um tchau para Dedé, que atencioso e gentil retribui com um sorriso e um balançar de cabeça. Sentado num banco ao lado de Dedé, outro vizinho comenta: _ Olha a pilantra, rata da balança andando de carro zero. É uma vagabunda, né não Dedé?


Dedé com a paciência e sabedoria que Deus lhe deu, dá uma longa tragada no cigarro, bebe mais um gole de cerveja, olha para seu interlocutor e responde para o Bairro todo ouvir:


_ QUER DIZER QUE AQUELA MULHER QUE LEVANTA AS PORTAS DO MERCADINHO AS SEIS DA MANHÃ, DE DOMINGO A DOMINGO, SEM FOLGA, QUE A ÚNICA DIVERSÃO NA VIDA É IR NA MISSA COM A MÃE AOS DOMINGOS É VAGABUNDA, E VOCÊ, QUE É UM PILANTRA, SAFADO, SEM VERGONHA, QUE PEDE DINHEIRO EMPRESTADO E NÃO PAGA, VIVE PEDINDO A UM E A OUTRO PARA PAGAR UMA CACHAÇA PARA VOCÊ, DEVE EM TODOS OS COMÉRCIOS, INCLUSIVE NO DELA, É UM HOMEM DE BEM? VAGABUNDO É VOCÊ, SAFADO!




As pessoas que ouviram aquilo ficaram olhando espantadas, o vizinho envergonhado, mas sem jeito, com vergonha, ficou paralisado, sem saber se ia embora ou se ficava. Dedé pegou o casco de cerveja e seu copo, pôs sobre o balcão da padaria, pagou e saiu andando calmamente. Atravessou a ponte, sentou-se no bar de Seu Luiz e perguntou: _Seu Luiz tem cerveja!


O velho português balançou a cabeça afirmativamente.


Então Dedé acende um cigarro, abre o botão da camisa, olha para o céu com um ar de quem está de bem com a vida e pede:


_Dê-me uma e um copo, bem geladinha, aquela que o senhor guardou para jantar.


Depois de encher o copo e erguê-lo para o céu como se estivesse fazendo um brinde exclama:


_A inveja é uma merda!!!!!

 

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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.



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